sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

TRANSFIGURADOS


Missa do 2º. dom. da quaresma. Gênesis 15,5-12.17-18; Filipenses 3,17–4,1; Lucas 9,28b-36.

Há cerca de um mês atrás celebramos o Batismo de Jesus, e o Evangelho nos dizia que, após o batismo, “enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus... E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu filho amado...’” (Lc 3,21-22). Naquela ocasião pudemos entender que, sem a oração, o céu permanece fechado para nós; sem a oração, nós nos afastamos da voz do Pai que, no meio de um mundo onde somos anônimos ou reconhecidos apenas quando e se produzimos alguma coisa, nos confirma como Seus filhos amados.
Hoje, ao narrar a cena da Transfiguração de Jesus, o Evangelho novamente nos remete à importância da oração: “Jesus... subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência...” (Lc 9,28-29). O mesmo rosto de Jesus, que antes expressava a consciência de que deveria sofrer muito, ser rejeitado, ser morto, e que ressuscitaria ao terceiro dia (cf. Lc 9,22), agora está transfigurado, reluzente de glória, porque está na presença do Pai, que O confirma como Seu Filho amado.
A indicação do Evangelho é simples: sem a oração, nós seguimos pela vida desfigurados. Nosso rosto expressa aquilo que temos em nosso coração: preocupação, angústia, medo, a sensação de que o mundo nos vence e a cruz nos derrota. A oração converte a nossa desfiguração em transfiguração, porque devolve ao nosso coração a capacidade de discernir, de perceber em tudo o que nos acontece a mão do Pai nos guiando, nos conduzindo, nos formando, cuidando de nós.
            Um exemplo de como a oração nos transfigura podemos encontrar na 1ª. leitura. Abrão, um homem desfigurado pela idade, pela ausência de um filho e também pela ausência de uma herança, se coloca diante de Deus na oração. Na oração, Deus conduz Abrão “para fora”, para fora do seu horizonte fechado, da sua visão estreita, para fora da sua desfiguração, e lhe faz uma promessa: “Olha para o céu e conta as estrelas, se fores capaz! Assim será a tua descendência” (Gn 15,5). E a Escritura diz que “Abrão teve fé no Senhor” (Gn 15,6).
            Nenhuma oração é mágica. Nenhuma oração resolve por si só os nossos problemas. Nenhuma oração nos transfigura rápida e instantaneamente. Assim como aconteceu com Abrão, o que nos transfigura é a nossa fé; o que nos transfigura é ter fé em cada Palavra que ouvimos de Deus, em cada promessa que Ele nos faz. A oração é apenas o espaço que você abre para ouvir Deus, para acolher a Sua Palavra, para se tornar consciente das Suas promessas em relação a você.   
A Campanha da Fraternidade dirige o nosso olhar para os jovens. Eles estão desfigurados ou transfigurados? A lista de coisas que desfiguram um jovem é muito extensa: as drogas, o desemprego, a violência, a separação dos pais, o não acesso ao estudo universitário, mas também o não acesso a tudo aquilo que ele gostaria de consumir, a falta de uma experiência mais profunda de fé, apenas para ficar em alguns exemplos. Mas o jovem não apenas sofre os efeitos da desfiguração social; ele é chamado a se tornar também sujeito de transfiguração. A pergunta de Deus ao jovem Isaías: “Quem enviarei?”, hoje se dirige a cada jovem: “Quem enviarei para transfigurar o rosto dessa sociedade, o coração de tantos jovens desfigurados?” Isaías, diante deste apelo, respondeu: “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8). Qual é a sua resposta?
Hoje somos chamados a conduzir os jovens para uma experiência de Deus, assim como Jesus fez com Pedro, Tiago e João. Somos chamados a ajudar os jovens a resgatar a sua vida de oração, onde possam apresentar a Deus toda a desfiguração que enfrentam no mundo e receber d’Ele a Palavra capaz de transfigurar seus corações e o coração da própria sociedade. Somos chamados a ser para cada jovem a presença de uma nuvem que os envolve, expressão da presença de Deus, ajudando cada jovem a escutar o Filho (cf. Lc 9,35), cuja Palavra nos transfigura a todos, Aquele a quem cada ser humano, e em especial cada jovem, é chamado a aguardar, com a firme esperança de que “Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,21).  
Pe. Paulo Cezar Mazzi

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