Missa do 2º. dom. da quaresma. Gênesis
15,5-12.17-18; Filipenses 3,17–4,1; Lucas 9,28b-36.
Há cerca de um mês atrás celebramos o
Batismo de Jesus, e o Evangelho nos dizia que, após o batismo, “enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu
sobre Jesus... E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu filho amado...’” (Lc
3,21-22). Naquela ocasião pudemos entender que, sem a oração, o céu permanece
fechado para nós; sem a oração, nós nos afastamos da voz do Pai que, no meio de
um mundo onde somos anônimos ou reconhecidos apenas quando e se produzimos
alguma coisa, nos confirma como Seus filhos amados.
Hoje, ao narrar a cena da
Transfiguração de Jesus, o Evangelho novamente nos remete à importância da
oração: “Jesus... subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, seu rosto mudou
de aparência...” (Lc 9,28-29). O mesmo rosto de Jesus, que antes expressava a
consciência de que deveria sofrer muito, ser rejeitado, ser morto, e que
ressuscitaria ao terceiro dia (cf. Lc 9,22), agora está transfigurado,
reluzente de glória, porque está na presença do Pai, que O confirma como Seu
Filho amado.
A indicação do Evangelho é
simples: sem a oração, nós seguimos pela vida desfigurados. Nosso rosto
expressa aquilo que temos em nosso coração: preocupação, angústia, medo, a
sensação de que o mundo nos vence e a cruz nos derrota. A oração converte a
nossa desfiguração em transfiguração, porque devolve ao nosso coração a
capacidade de discernir, de perceber em tudo o que nos acontece a mão do Pai
nos guiando, nos conduzindo, nos formando, cuidando de nós.
Um exemplo de
como a oração nos transfigura podemos encontrar na 1ª. leitura. Abrão, um homem
desfigurado pela idade, pela ausência de um filho e também pela ausência de uma
herança, se coloca diante de Deus na oração. Na oração, Deus conduz Abrão “para
fora”, para fora do seu horizonte fechado, da sua visão estreita, para fora da
sua desfiguração, e lhe faz uma promessa: “Olha para o céu e conta as estrelas,
se fores capaz! Assim será a tua descendência” (Gn 15,5). E a Escritura diz que
“Abrão teve fé no Senhor” (Gn 15,6).
Nenhuma oração é
mágica. Nenhuma oração resolve por si só os nossos problemas. Nenhuma oração
nos transfigura rápida e instantaneamente. Assim como aconteceu com Abrão, o
que nos transfigura é a nossa fé; o que nos transfigura é ter fé em cada
Palavra que ouvimos de Deus, em cada promessa que Ele nos faz. A oração é
apenas o espaço que você abre para ouvir Deus, para acolher a Sua Palavra, para
se tornar consciente das Suas promessas em relação a você.
A Campanha da Fraternidade dirige o
nosso olhar para os jovens. Eles estão desfigurados ou transfigurados? A lista
de coisas que desfiguram um jovem é muito extensa: as drogas, o desemprego, a
violência, a separação dos pais, o não acesso ao estudo universitário, mas
também o não acesso a tudo aquilo que ele gostaria de consumir, a falta de uma
experiência mais profunda de fé, apenas para ficar em alguns exemplos. Mas o
jovem não apenas sofre os efeitos da desfiguração social; ele é chamado a se
tornar também sujeito de transfiguração. A pergunta de Deus ao jovem Isaías:
“Quem enviarei?”, hoje se dirige a cada jovem: “Quem enviarei para transfigurar
o rosto dessa sociedade, o coração de tantos jovens desfigurados?” Isaías,
diante deste apelo, respondeu: “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8). Qual é a sua
resposta?
Hoje somos chamados a conduzir os jovens
para uma experiência de Deus, assim como Jesus fez com Pedro, Tiago e João. Somos
chamados a ajudar os jovens a resgatar a sua vida de oração, onde possam
apresentar a Deus toda a desfiguração que enfrentam no mundo e receber d’Ele a
Palavra capaz de transfigurar seus corações e o coração da própria sociedade. Somos
chamados a ser para cada jovem a presença de uma nuvem que os envolve, expressão
da presença de Deus, ajudando cada jovem a escutar o Filho (cf. Lc 9,35), cuja
Palavra nos transfigura a todos, Aquele a quem cada ser humano, e em especial
cada jovem, é chamado a aguardar, com a firme esperança de que “Ele transformará
o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o
poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,21).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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