sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

LEVA-ME ÀS ÁGUAS PROFUNDAS! AVIVA-ME DE NOVO, SENHOR!


Missa do batismo do Senhor – Palavra de Deus: Isaías 42,1-4.6-7; Atos 10,34-38; Lucas 3,15-16.21-22.

“Leva-me às águas profundas! Aviva-me de novo, Senhor! Leva-me às águas profundas! Fala ao meu coração!” (Tony Allysson, Águas profundas). A Palavra que acabamos de ouvir quer nos reconduzir para as águas profundas do nosso batismo, águas que nos mergulharam em Deus.
Para a grande maioria de nós, o nosso batismo aconteceu quando éramos crianças. Ele foi um símbolo do que é a graça de Deus: antes de qualquer atitude nossa no sentido de nos afastar de Deus e do Seu amor, Ele nos amou e nos mergulhou no Seu amor; antes de usarmos mal a nossa liberdade e decidirmos viver a nossa vida segundo o nosso egoísmo, Ele derramou sobre nós o Seu Espírito, convidando-nos a nos deixar conduzir por esse mesmo Espírito.
Ao nos colocar diante do Batismo de Jesus, a Palavra hoje nos convida a tomar consciência da verdade e do significado do nosso próprio Batismo. “Batizar” significa “mergulhar”. Embora vivamos mergulhados no mundo, precisamos a cada dia voltar a mergulhar em Deus, para não perder a consciência de quem somos. Ouvindo tantas vozes que falam conosco – a voz dos nossos conflitos interiores, dos nossos medos, das nossas angústias e preocupações, a voz das cobranças externas, do barulho do mundo, a voz do nosso próprio pecado etc. – precisamos nos voltar para “a voz do Senhor sobre as águas” (Sl 29,3) tempestuosas da nossa vida, a voz do Pai que continua a pronunciar sobre cada um de nós o que pronunciou no dia do nosso Batismo: “Tu é o meu filho amado...” (Lc 3,22).
Descrevendo para nós a figura do Servo de Deus, o profeta Isaías nos ajuda a perceber se estamos vivendo de acordo com o Batismo que recebemos ou não. Eis as características do Servo de Deus – e da pessoa que vive segundo o seu Batismo: ele não faz barulho, não chama a atenção dos outros para si; não age com brutalidade; enxerga o que ainda há de bom em cada pessoa; é tolerante e tem esperança na possibilidade de mudança de cada pessoa; procura ajudar para que cada um se confronte com a verdade; não desanima, nem se deixa abater, até que a justiça se estabeleça na sociedade... (cf. Is 42,2-4).
Você se reconhece nessas atitudes? Elas dizem o quanto você está vivendo de acordo ou não com o seu Batismo, o quanto você se deixa conduzir ou não pelo Espírito que recebeu no dia do seu Batismo. Também o apóstolo Pedro nos ajuda a rever a nossa postura enquanto batizados, ao mencionar que, depois do Batismo, Jesus “foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem... (At 10,38). O bem que Deus chama cada um de nós, batizados, a fazer pode ser traduzido nessas palavras: “Eu, o Senhor, te chamei para a justiça; eu te formei para... abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” Is 42,6-7).
“Leva-me às águas profundas! Aviva-me de novo, Senhor! Leva-me às águas profundas! Fala ao meu coração!”. O Evangelho nos coloca diante da cena do Batismo de Jesus: “E, enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus... E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu filho amado...’” (Lc 3,21-22). Muitos pais se preocupam em batizar seus filhos depois que nascem, mas muitos deles se esquecem de alimentar a consciência da filiação divina em seus filhos por meio da oração.
É próprio de São Lucas sublinhar que o céu se abriu sobre Jesus não no momento do Batismo, mas depois, enquanto ele rezava. Como anda a sua vida de oração? Você reza como um batizado, que faz da oração a sua abertura para Deus, ou reza como um pagão, que faz da oração sua tentativa de abrir o céu à força e conseguir isso ou aquilo de Deus? Quando rezamos como batizados, como pessoas que se abrem para Deus, o céu também se abre sobre nós, e recebemos do Pai a Sua maior bênção, o dom do Seu Espírito.
Toda oração, vivida como abertura para Deus, nos dá a graça de voltar a ouvir o Pai. Nós precisamos dessa voz, que fala conosco sobre as águas imensas, as águas tempestuosas da nossa vida, sobre o barulho do mundo que tantas vezes nos torna surdos à voz de Deus. A cada dia nós precisamos voltar a ouvir o Pai nos dizer: “Tu és o meu filho amado...” (Lc 3,22). Assim, movidos pelo Espírito que recebemos no Batismo, declaramos: “Eu sou teu filho amado. Reconstruiremos minhas muralhas. Eu sou teu filho amado. Reconstruiremos minhas muralhas, pelo poder da Tua palavra!” (Diego Fernandes, Pelo poder da Tua palavra). E suplicamos mais uma vez: “Leva-me às águas profundas! Aviva-me de novo, Senhor! Leva-me às águas profundas! Fala ao meu coração!”. 
                                                                       Pe. Paulo Cezar Mazzi

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