quinta-feira, 11 de outubro de 2012

INTEIROS PARA DEUS, NÃO PELA METADE


Missa do 29º. dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 7,7-11; Hebreus 4,12-13; Marcos 10,17-30.

            Um homem corre até Jesus, preocupado com a vida eterna. Atrás do quê as pessoas estão correndo? O que preocupa o coração das pessoas hoje? Para alguns, é a sobrevivência em meio à guerra entre a polícia e os traficantes; para outros, é a aquisição de novos bens de consumo; para alguns, se trata de arranjar um emprego; para outros, se trata de resolver os problemas da sua vida afetiva; para tantos, se trata de vencer sua doença... Sejamos sinceros: quem à nossa volta está preocupado com a vida eterna?
Este homem que procurou Jesus era muito rico. Diríamos, então, que ele poderia se dar ao “luxo” de preocupar-se com a vida eterna. Mas ao perguntar a Jesus sobre a vida eterna, este homem nos ensina que existe algo que inquieta o nosso coração: o desejo pela verdadeira vida, uma sede de sentido que não pode ser saciada com os nossos bens, como nos lembra o livro da Sabedoria: “Preferi a sabedoria... Diante dela, todo o ouro do mundo é um punhado de areia e a prata é como a lama” (citação livre de Sb 7,8-9).
Sempre que estamos diante de Jesus, estamos diante daquele que é a própria Palavra viva de Deus, uma Palavra que é “mais cortante do que qualquer espada de dois gumes”. Jesus, com o seu olhar, com a verdade da sua Palavra, penetra em nós “até dividir alma e espírito”. Sua Palavra “julga os pensamentos e as intenções do coração” de cada um de nós (cf. Hb 4,12). Porque nos conhece mais do que nós mesmos nos conhecemos e porque nos ama, Jesus tem a liberdade de nos desafiar: “Só uma coisa ter falta” (Mc 10,21). É como se Jesus dissesse: ‘Você tem se preocupado com muitas coisas na sua vida, mas falta você se preocupar com o essencial... Você já deu muitos passos no seu caminho de fé, mas falta dar o passo decisivo... Você tem feito muitas coisas para Deus, mas falta ainda uma coisa, para você ser totalmente um homem/uma mulher de Deus’.
Quando aquele homem ouviu de Jesus o que lhe faltava, “ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico” (Mc 10,22). Quando a Palavra de Deus provocar em você abatimento e tristeza, não fuja disso. Esse abatimento e essa tristeza estão ali para dizer que alguma coisa precisa ser corrigida na sua vida, que há um desejo mais profundo dentro de você que precisa ser ouvido. Quando você sai desanimado(a) ou revoltado(a) da conversa com um médico, com um psicólogo ou com um diretor espiritual, veja isso como um bom sinal, sinal de que a palavra dele tocou na ferida que precisa ser reconhecida, para que a cura comece a se operar em você.
Jesus aproveitou a causa do abatimento e da tristeza daquele homem para dizer aos discípulos: “Como é difícil para os ricos entrar no reino de Deus!” (Mc 10,23). Os discípulos ficaram espantados, porque a riqueza era entendida como sinal de bênção divina. Jesus poderia ter amenizado a exigência da sua Palavra, mas ele a fez penetrar mais fundo ainda, atingindo o coração de qualquer pessoa, não só dos ricos: “Como é difícil entrar no reino de Deus!” (Mc 10,24). Numa época como a nossa, onde muitas pessoas buscam uma religião “light”, se comprometendo o mínimo com Deus, Jesus nos lembra que isso não preenche o desejo do nosso coração pela verdadeira vida. Enquanto não tivermos a coragem de reconhecer o que ainda nos falta para sermos autenticamente de Deus, nossa vida cristã continuará insossa, sem graça, perdendo o sentido inclusive para nós mesmos.
Eis a proposta de Jesus: tente passar um camelo pelo buraco de uma agulha! Isso não é apenas difícil; isso é impossível! Há coisas na vida de cada um de nós que são incompatíveis com o Evangelho e que precisam ser abandonadas se queremos ser verdadeiramente de Deus. Mas aí entram os nossos mecanismos de defesa, para não permitir que a Palavra penetre onde não queremos. Dizemos: ‘O camelo significa uma corda grossa... O buraco da agulha significa uma porta estreita’. Mas, como lembra José Lisboa M. de Oliveira, no seu livro Viver os votos (pp.99.101), “não dá para falar de corda, de cordão grosso, nem confundir o fundo da agulha com alguma porta estreita. Tanto o camelo como o buraco da agulha devem ser entendidos no sentido totalmente literal... Toda tentativa de emagrecer o camelo e alargar o buraco da agulha é uma violação da Palavra e como tal deve ser rejeitada”.  
Afinal, o que Jesus quer? Jesus quer você livre, não preso a fios de ouro invisíveis. Jesus quer você por inteiro, não uma parte sua, ainda que seja a melhor. Jesus não quer que você faça coisas boas em nome dele, de vez em quando, mas quer que você o siga e que se desprenda de tudo o que atrapalha esse seguimento. Jesus quer que você permita que a Sua Palavra penetre em você e corte onde tem que cortar, em vista da sua conversão e da sua santificação, e pare de tentar torná-la inofensiva, como se fosse apenas conselhos de auto-ajuda. Enfim, Jesus quer que, na sua oração diária, você não tenha medo de escutá-lo dizer o que ainda te falta para ser um autêntico discípulo Seu... 
Pe. Paulo Cezar Mazzi

Um comentário:

  1. Obrigada,Pe.Paulo, através de suas reflexões aprendemos melhor o que Deus quer para nos.um abraço ,

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