Missa do 19º dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 18,6-9; Hebreus 11,1-2.8-12; Lucas 12,35-40.
Este ano de 2025 foi escolhido pelo
Papa Francisco para celebrarmos o Jubileu da Encarnação de Nosso Senhor Jesus
Cristo, com o tema: “Peregrinos de Esperança”. A esperança é justamente a força
que nos levanta e nos põe a caminho, nos faz peregrinos, como Abraão que, ao
ser chamado por Deus, “partiu, sem saber para onde ia” (Hb 11,8). Partir sem
saber para onde vamos significa deixar-nos conduzir por Alguém que é maior do
que nós, pelo Deus que vê aquilo que ainda não vemos e que, em Seu Filho Jesus
Cristo, nos fez a promessa da vida eterna. Ora, sempre que Deus nos faz uma
promessa, esta precisa ser abraçada pela esperança.
Como anda a nossa esperança? Em
tempos de rapidez e de imediatismo, nós sabemos esperar em Deus? O salmista fez
uma afirmação importante: “O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem, e que
confiam esperando em seu amor, para da morte libertar as suas vidas e alimentá-los
quando é tempo de penúria” (Sl 33,18). Confiar esperando em Seu amor – essa é a
atitude que nos é pedida por Deus. Foi essa a atitude dos hebreus que, vivendo
escravos do Egito, esperaram pela noite da sua libertação: “A noite da
libertação... foi esperada por teu povo, como salvação para os justos e como
perdição para os inimigos” (Sb 18,6.7).
Mais uma vez, precisamos nos
perguntar: nós ainda sabemos esperar no Senhor, esperar por Seu socorro, por
Sua salvação? Não há dúvida de que muitos esperaram em Deus e se decepcionaram,
porque a salvação pela qual esperavam não veio. É o caso de tantos que
suplicaram a cura por um ente querido, mas em lugar da cura veio a morte. Aqui
precisamos nos recordar as palavras do apóstolo Paulo: “Se temos esperança em
Cristo somente para essa vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os
homens” (1Cor 15,19). A nossa esperança nunca pode se restringir ao aqui e
agora, mas manter-se aberta. A salvação que Deus nos oferece em Seu Filho Jesus
Cristo transcende esta vida e ultrapassa todo o nosso entendimento.
Olhemos novamente para Abraão. A
esperança que ele tinha em Deus o fez habitar na terra prometida como
estrangeiro, morando em tendas! De fato, “ele residiu como estrangeiro na terra
prometida, morando em tendas... pois esperava a cidade alicerçada que tem Deus
mesmo por arquiteto e construtor” (Hb 11,9-10). A tenda é uma morada
provisória. Ela se tornou, na Bíblia, símbolo de tudo aquilo que é provisório,
transitório, em nossa vida. Enquanto estivermos neste mundo, tudo será
provisório, não somente as coisas, mas inclusive as pessoas que hoje estão em
nossa vida. Também aquilo que hoje nos oferece alguma garantia de segurança e
bem-estar é provisório: saúde, dinheiro, amor etc.
Morando em tendas, Abraão esperava a
cidade que tem Deus como alicerce e construtor. O quê você espera nesta vida?
Como você lida com aquilo que é transitório? Você consegue deixar ir aquilo que
tem que ir? Suas mãos estão sempre fechadas, tentando agarrar-se àquilo que é
provisório, ou se mantém abertas para receber aquilo que Deus está lhe
preparando, como salvação definitiva?
A esperança sempre nos faz olhar
para frente, nunca para trás. Jesus nos quer pessoas não só habitadas, mas
também movidas pela esperança. É por isso que ele nos diz: “Que vossos rins
estejam cingidos e as lâmpadas acesas” (Lc 12,35). No tempo de Jesus estar com
os rins cingidos significava colocar sobre as vestes largas, um cinto ou uma
corda na cintura, para segurar a veste e assim, facilitar os movimentos do
corpo, principalmente em vista de uma caminhada. Jesus quer que tenhamos consciência
de que somos peregrinos, ou seja, nós estamos a caminho. Cada vez que perdemos
algo provisório, precisamos olhar para a frente e continuar o nosso caminho,
sustentados pela esperança e mantendo os olhos fixos na promessa de Deus.
Além de ter os rins cingidos, Jesus
nos fala da importância de termos nossas lâmpadas acesas. Uma lâmpada acesa é
necessária, sobretudo, durante a noite. Isso significa que nós teremos que
caminhar algumas vezes de noite, isto é, teremos que continuar a dar passos na
direção de Deus e das Suas promessas mesmo quando estamos atravessando a noite
escura da fé, ou seja, quando temos a sensação que Deus nos deixou sozinhos no
caminho da vida ou que escondeu de nós o Seu rosto. É exatamente nas noites
escuras da fé que corremos o risco de deixar de esperar no Senhor, e quando deixamos
de esperar, também deixamos de caminhar. Portanto, quando tudo fica escuro à
nossa volta, a lâmpada da nossa esperança precisa se manter acesa, recordando
esta verdade: “Não se envergonha quem em Vós põe a esperança, mas quem por um
nada nega a sua fé” (Sl 25,3).
Por fim, Jesus fala de maneira mais
explícita sobre a esperança ao nos dizer: “Sede como homens que estão esperando seu
senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a
porta, logo que ele chegar e bater” (Lc 12,36). O quê, concretamente, nós,
cristãos, estamos esperando? Estamos esperando uma Pessoa! Estamos esperando
nosso Senhor voltar! Mas, quando ele voltará? Deixemos o próprio Jesus
responder: “Ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que
menos o esperardes” (Lc 12,40). Nossa esperança pela volta do Senhor Jesus
precisa desistir de querer saber inutilmente quando ela se dará, e manter o foco
na tarefa que ele mesmo nos confiou. Concretamente, quando Jesus voltar, ele
quer nos encontrar cuidando daquilo que ele confiou aos nossos cuidados.
Cuidemos da nossa esperança! Não
permitamos que o mundo nos contamine com a doença do desespero, com o esvaziamento
da nossa esperança e com a perda de sentido da nossa vida. Quanto mais a vida
nos confronta com a verdade daquilo que é transitório, mais nossa esperança
precisa levantar o seu olhar para frente, para o Senhor que está vindo. Façamos
nossa a oração do salmista: “No Senhor nós esperamos confiantes, porque ele é
nosso auxílio e proteção! Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma
que em vós nós esperamos!” (Sl 33,20.22).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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