Missa do 21º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 66,18-21; Hebreus 12,5-7.11-13; Lucas 13,22-30.
“Senhor, é verdade que são poucos os
que se salvam?” (Lc 13,23). Quem hoje pergunta pela salvação, seja de si mesmo,
seja dos outros? A pergunta pela salvação é a pergunta pela Vida Eterna. Neste
mundo onde “quem pode mais chora menos”, cada um vive correndo atrás não da sua
salvação, mas da sua sobrevivência. Além disso, as redes sociais fizeram nascer
outra preocupação nas pessoas: como tornar-se um youtuber, um influencer; como
ganhar seguidores e, consequentemente, dinheiro, postando vídeos fúteis, banais
e vazios. Se há algo que está longe da vida cotidiana da maioria das pessoas
hoje em dia é a pergunta pela Vida Eterna.
Talvez, uma outra razão para as pessoas não se
preocuparem com a própria salvação seja a confiança na ciência, na tecnologia,
no dinheiro ou, quem sabe, nas armas etc. Neste sentido, precisamos nos lembrar
de uma importante verdade: “Ninguém se salvará por sua própria força” (Sl 33,17).
A salvação não é uma conquista nossa, mas uma resposta de fé ao Deus que nos
enviou o seu Filho como Salvador do mundo: “Deus enviou seu Filho ao mundo para
salvar o mundo. Quem n’Ele crê não é condenado; mas quem não crê, já está
condenado” (citação livre de Jo 3,17-18).
Então, basta a fé em Jesus Cristo
para sermos salvos? Depende do que entendemos por fé. A fé é uma força que nos
tira da acomodação e nos põe em movimento. Jesus traduz a fé n’Ele usando um
exemplo bem concreto: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta
estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc
13,24). A porta da salvação é o próprio Jesus, como Ele mesmo afirma: “Eu sou a
porta. Quem entrar por mim será salvo” (Jo 10,9). Mas, por que Jesus é uma
porta “estreita” e não larga?
Na verdade, o que torna a porta da
salvação estreita é a nossa preguiça espiritual. A maioria das pessoas faz corpo
mole perante a vida, buscando sempre o caminho mais fácil e menos custoso. Como
alguém disse: “todo mundo quer ir para o céu, desde que não tenha que fazer
nada”. Para uma geração como a atual, que quer tudo fácil e rápido, que vive se
desviando do que é difícil e custoso, a desistência em ser salva é regra e não
exceção. No entanto, Deus não desiste de nos chamar à conversão e à salvação.
Por isso, permite situações dolorosas em nossa vida em vista da nossa educação,
da nossa correção: “Meu filho, não desprezes a educação do Senhor, não te
desanimes quando ele te repreende; pois o Senhor corrige a quem ele ama e
castiga a quem aceita como filho” (Hb 12,5-6).
Quanto mais “corpo mole” uma pessoa é,
mais ela vai “apanhar” da vida, até virar gente. Quanto mais teimoso, arrogante
e autossuficiente for o coração humano, mais ele precisará sofrer para se
tornar humilde e reconhecer-se necessitado de salvação. Isso não quer dizer que
todas as pessoas que sofrem aceitam ser educadas, corrigidas. Muitos seguirão
pela vida destruindo a si mesmos e aos outros, seja por orgulho, seja pela
própria preguiça em se esforçar para mudar e melhorar.
Se existe em nós um instinto em
fugir da dificuldade e buscar facilidade, o autor da carta aos Hebreus afirmou
algo intolerável de se ouvir: “É para a vossa educação que sofreis” (Hb 12,7).
Em outras palavras: quando estamos passando por uma situação de sofrimento,
precisamos nos fazer uma pergunta: “O que esse sofrimento veio me ensinar?”. A
vida ensina quem está disposto a aprender, e as lições mais importantes só são
aprendidas por meio da dor. Só o sofrimento tem o poder de nos transformar em
pessoas melhores, mas isso depende da forma como lidamos com ele e se estamos
abertos a ouvir o que ele tem a nos ensinar.
Assim termina o texto de hoje da carta
aos Hebreus: “Acertai os passos dos vossos pés, para que não se extravie o que
é manco, mas antes seja curado” (Hb 12,13). Os passos que temos dado na vida
têm nos levado na direção da porta estreita, que é Cristo, ou nos afastado cada
vez mais dela? Tenhamos
consciência disso: só existe cura para quem se reconhece doente e não somente
busca pelo Médico, Jesus Cristo, mas também aceita tomar o remédio “amargo” do
Evangelho. Só existe salvação para quem, de fato, se preocupa e se esforça por
viver de maneira digna da Vida Eterna. No fundo, a pergunta que precisa ser
respondida não é se são poucos os que se salvam, mas se cada um de nós tem
consciência de que necessita ser salvo.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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