quinta-feira, 21 de agosto de 2025

NÃO HÁ CÉU PARA QUEM VIVE FAZENDO CORPO MOLE NA TERRA

 Missa do 21º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 66,18-21; Hebreus 12,5-7.11-13; Lucas 13,22-30.

            “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23). Quem hoje pergunta pela salvação, seja de si mesmo, seja dos outros? A pergunta pela salvação é a pergunta pela Vida Eterna. Neste mundo onde “quem pode mais chora menos”, cada um vive correndo atrás não da sua salvação, mas da sua sobrevivência. Além disso, as redes sociais fizeram nascer outra preocupação nas pessoas: como tornar-se um youtuber, um influencer; como ganhar seguidores e, consequentemente, dinheiro, postando vídeos fúteis, banais e vazios. Se há algo que está longe da vida cotidiana da maioria das pessoas hoje em dia é a pergunta pela Vida Eterna.   

             Talvez, uma outra razão para as pessoas não se preocuparem com a própria salvação seja a confiança na ciência, na tecnologia, no dinheiro ou, quem sabe, nas armas etc. Neste sentido, precisamos nos lembrar de uma importante verdade: “Ninguém se salvará por sua própria força” (Sl 33,17). A salvação não é uma conquista nossa, mas uma resposta de fé ao Deus que nos enviou o seu Filho como Salvador do mundo: “Deus enviou seu Filho ao mundo para salvar o mundo. Quem n’Ele crê não é condenado; mas quem não crê, já está condenado” (citação livre de Jo 3,17-18).     

            Então, basta a fé em Jesus Cristo para sermos salvos? Depende do que entendemos por fé. A fé é uma força que nos tira da acomodação e nos põe em movimento. Jesus traduz a fé n’Ele usando um exemplo bem concreto: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13,24). A porta da salvação é o próprio Jesus, como Ele mesmo afirma: “Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo” (Jo 10,9). Mas, por que Jesus é uma porta “estreita” e não larga?

            Na verdade, o que torna a porta da salvação estreita é a nossa preguiça espiritual. A maioria das pessoas faz corpo mole perante a vida, buscando sempre o caminho mais fácil e menos custoso. Como alguém disse: “todo mundo quer ir para o céu, desde que não tenha que fazer nada”. Para uma geração como a atual, que quer tudo fácil e rápido, que vive se desviando do que é difícil e custoso, a desistência em ser salva é regra e não exceção. No entanto, Deus não desiste de nos chamar à conversão e à salvação. Por isso, permite situações dolorosas em nossa vida em vista da nossa educação, da nossa correção: “Meu filho, não desprezes a educação do Senhor, não te desanimes quando ele te repreende; pois o Senhor corrige a quem ele ama e castiga a quem aceita como filho” (Hb 12,5-6).

Quanto mais “corpo mole” uma pessoa é, mais ela vai “apanhar” da vida, até virar gente. Quanto mais teimoso, arrogante e autossuficiente for o coração humano, mais ele precisará sofrer para se tornar humilde e reconhecer-se necessitado de salvação. Isso não quer dizer que todas as pessoas que sofrem aceitam ser educadas, corrigidas. Muitos seguirão pela vida destruindo a si mesmos e aos outros, seja por orgulho, seja pela própria preguiça em se esforçar para mudar e melhorar.  

            Se existe em nós um instinto em fugir da dificuldade e buscar facilidade, o autor da carta aos Hebreus afirmou algo intolerável de se ouvir: “É para a vossa educação que sofreis” (Hb 12,7). Em outras palavras: quando estamos passando por uma situação de sofrimento, precisamos nos fazer uma pergunta: “O que esse sofrimento veio me ensinar?”. A vida ensina quem está disposto a aprender, e as lições mais importantes só são aprendidas por meio da dor. Só o sofrimento tem o poder de nos transformar em pessoas melhores, mas isso depende da forma como lidamos com ele e se estamos abertos a ouvir o que ele tem a nos ensinar.

Assim termina o texto de hoje da carta aos Hebreus: “Acertai os passos dos vossos pés, para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado” (Hb 12,13). Os passos que temos dado na vida têm nos levado na direção da porta estreita, que é Cristo, ou nos afastado cada vez mais dela? Tenhamos consciência disso: só existe cura para quem se reconhece doente e não somente busca pelo Médico, Jesus Cristo, mas também aceita tomar o remédio “amargo” do Evangelho. Só existe salvação para quem, de fato, se preocupa e se esforça por viver de maneira digna da Vida Eterna. No fundo, a pergunta que precisa ser respondida não é se são poucos os que se salvam, mas se cada um de nós tem consciência de que necessita ser salvo.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi    

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