Missa do Batismo do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 42,1-4.6-7; Atos dos Apóstolos 10,34-38; Lucas 3,15-16.21-22.
“Quem crer e for batizado será salvo”
(Mc 16,16). Essas palavras de Jesus revelam a absoluta necessidade do Batismo
para a salvação. Outra forma de entendermos essa necessidade é a afirmação de
Jesus a Nicodemos: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no
Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é
espírito” (Jo 3,5-6). Sem o Batismo somos apenas carne, pessoas mortais, cujo
destino final é a decomposição do nosso corpo. Através do Batismo recebemos o
dom do Espírito Santo, o sopro da Vida que vem de Deus e que nos destina para a
ressurreição e a Vida eterna (cf. Rm 8,11).
Apesar da importância do Batismo para a nossa
salvação, ele não a garante por si mesma. Isso fica claro nas palavras do
apóstolo Paulo: “Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos
de Deus” (Rm 8,14). Toda pessoa batizada é convidada a se deixar conduzir pelo
Espírito Santo e não pelo seu próprio egoísmo (muito menos pelo seu pecado).
Jesus é o exemplo mais concreto desse deixar-se conduzir pelo Espírito de Deus:
“Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele
andou por toda a parte, fazendo o bem” (At 10,38). Se o nosso Batismo não foi
uma decisão nossa, mas dos nossos pais, cabe a nós decidir como queremos viver:
se presos aos apelos da carne (egoísmo), ou se conduzidos na liberdade do
Espírito. Além disso, se estamos passando por este mundo sem fazer o bem de que
somos capazes, de que está servindo o fato de termos sido batizados? Não nos
esqueçamos dessa verdade: “Aquele que sabe fazer o bem e não o faz, comete
pecado” (Tg 4,17).
Ao narrar o Batismo de Jesus, São
Lucas nos revela o momento em que Jesus recebeu o Espírito Santo: “Jesus também
recebeu o batismo. E, enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu
sobre Jesus em forma visível, como pomba” (Lc 3,21-22). “Enquanto rezava”. Ao ensinar
a oração do Pai nosso Jesus afirma: “O Pai do céu dará o Espírito Santo aos que
o pedirem (na oração)” (Lc 11,13). A oração é necessária para que o Espírito
Santo seja reavivado em nós! É ela que faz com que o céu se abra sobre nós e
Deus nos comunique o seu amor, a sua bênção, o seu Espírito! Sem a oração, nós
seguimos pela vida sustentados unicamente pela força da nossa carne, a qual por
si mesma é fraca. Sem a oração, o céu se mantém fechado sobre nós e não
recebemos a força de Deus para realizar a nossa missão.
Estando o céu aberto, Jesus não
apenas recebeu o Espírito Santo, mas ouviu o Pai falar com ele: “E do céu veio
uma voz: ‘Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer’” (Lc 3,22). A
oração é o momento em que não somente o Filho fala com o Pai, mas também o Pai
fala com o Filho. Só o Pai sabe quem o Filho é e para quê ele foi enviado ao
mundo. Nós precisamos que o Pai nos diga quem somos e para quê nascemos. Neste
mundo massificado, onde nos sentimos anônimos, ignorados, desorientados,
precisamos ouvir a voz do Pai a confirmar a nossa filiação divina.
Através do texto do profeta Isaías
tomamos consciência da nossa identidade de cristãos batizados, isto é, de
pessoas que receberam o Espírito Santo e se deixam conduzir por ele: “Pus meu
espírito sobre ele... Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas
ruas” (Is 42,1-2). Quando nos deixamos conduzir pelo Espírito Santo não nos
comportamos como uma carroça vazia, que faz barulho por onde passa. O barulho é
sempre proporcional ao vazio que a pessoa carrega dentro de si. Quanto mais
barulho, quanto mais exposição nas redes sociais, maior é o grito de desespero
de quem precisa ser reconhecido.
No lugar do barulho, que faz a
pessoa chamar a atenção sobre si mesma, o Espírito Santo nos capacita a levar
palavras de conforto à pessoa abatida (cf. Is 50,4), a dizer palavras que
ajudem as pessoas que estão como que cegas a voltarem a enxergar esperança para
suas vidas, a encorajar as pessoas a desejarem sair da prisão em que se
colocaram ou permitiram serem colocadas, a conduzir para a luz aqueles que se
entregaram às trevas do desânimo e da falta de sentido para suas vidas (cf. Is
42,7).
Outra característica da pessoa que
se deixa conduzir pelo Espírito Santo: “Não quebra uma cana rachada nem apaga
um pavio que ainda fumega; mas promoverá o julgamento para obter a verdade” (Is
42,3). Sendo uma pessoa habitada pela esperança, ela não joga ninguém fora e
não considera nenhum ser humano um caso perdido, mas consegue enxergar o que
ainda pode ser recuperado na pessoa. Desse modo, ela tem paciência com aqueles
que ainda tropeçam e caem, e aposta na capacidade que cada um tem de
levantar-se e de se recolocar no caminho. Ao mesmo tempo, ela tem como objetivo
principal “obter a verdade”, isto é, ajudar cada pessoa a se desfazer das suas
desculpas e a abraçarem a própria verdade a respeito de si mesmas e da vida.
Por fim, uma última característica
da pessoa batizada que se deixa conduzir pelo Espírito Santo: “Não esmorecerá
nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra” (Is 42,4).
Sustentada pela “força do Alto” (Lc 24,49), ela não se deixa contaminar pelo
pessimismo e pelo derrotismo, mesmo vivendo em um mundo contrário aos valores
do Evangelho. Livre da necessidade de agradar as pessoas ou de ser aceita por
elas, ela se sabe amada por Deus e se mantém firme na missão recebida: tornar o
mundo um lugar mais justo e fraterno, ainda que o preço a pagar seja a crítica
ou a perseguição. Convicta de que não recebeu um espírito de medo, mas de força
(cf. 2Tm 1,7), ela não se dobra, nem se deixa quebrar, pelos ventos que sopram
contrários, mas se mantém firme na vocação recebida, sabendo que Deus está com
ela (cf. At 10,38).
Renovemos as promessas do nosso
Batismo e a nossa decisão em nos deixar conduzir pelo Espírito Santo de Deus,
nos configurando a Jesus Cristo, que “andou por toda a parte, fazendo o
bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio” (At 10,38).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
Nenhum comentário:
Postar um comentário