Missa do 3º dom. comum. Palavra de Deus: Neemias 8,2-4a.5-6.8-10; 1Coríntios 12,12-14.27; Lucas 1,1-4; 4,16-21.
“Espero em tua palavra” (Sl 119,74).
Este é o tema escolhido pelo Papa Francisco para celebrarmos o “Domingo da
Palavra de Deus” dentro do Jubileu deste ano: “Peregrinos de Esperança”.
“Espero em tua palavra” (Sl 119,74). Deus
é Palavra; Ele se revelou como Palavra que realiza aquilo que diz: “O que sai
da minha boca é a verdade, uma palavra que não voltará atrás” (Is 45,23). O
Deus que é Palavra entra em diálogo com o ser humano e espera dele a resposta da
fé – a obediência. No sentido bíblico, ouvir significa obedecer. Segundo o
apóstolo Paulo, “a fé vem da pregação, e a pregação é pela palavra de Cristo” (Rm
10,17). Quando não obedecemos à Palavra de Deus, nossa fé morre: “Esta é a
nação que não escutou a voz do Senhor seu Deus, e não aceitou o ensinamento.
Sua fé morreu: foi arrancada de sua boca” (Jr 7,28).
Deus é Palavra; essa Palavra se tornou
Livro (Sagrada Escritura). “Estando num lugar mais alto, ele abriu o livro à
vista de todo o povo. E, quando o abriu, todo o povo ficou de pé” (Ne 8,5). A
Palavra que é Deus nos põe em pé, ou seja, nos levanta do desânimo, nos tira da
prostração. Tanto é verdade que o salmista diz: “Se tu não me falas, sou como
quem desce à cova” (Sl 28,1). Quando Jesus nos fala no Evangelho, ficamos em
pé, pois sua Palavra tem o poder de nos fazer passar da morte para a vida (cf.
Jo 5,24).
O Deus que é Palavra, após nos ter
falado, aguarda a resposta da nossa fé: “Esdras bendisse o Senhor, o grande
Deus, e todo o povo respondeu, levantando as mãos: ‘Amém! Amém!’” (Ne 8,6). A
melhor “tradução” para esse “Amém” se encontra em Maria: “Faça-se em mim
segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Quando dizemos “Amém” à Palavra que o Senhor
nos dirigiu estamos dizendo que confiamos no que Ele nos falou e nos dispomos a
viver segundo o ensinamento contido na sua Palavra: “Depois inclinaram-se e
prostraram-se diante do Senhor, com o rosto em terra” (Ne 8,6). Inclinar-se
diante da Sagrada Escritura é inclinar-se diante do próprio Senhor! Esse “inclinar-se
e prostrar-se” significa total adesão e submissão ao que o Senhor nos falou. Desse
modo, o nosso coração escancara suas portas para receber tudo o que o Senhor
Deus deseja nos dar e/ou realizar em nossa vida por meio da sua Palavra.
“Todo o povo chorava ao ouvir as
palavras da Lei” (Ne 8,9). Quando nos deixamos alcançar pela verdade da
Palavra, choramos diante das mentiras e dos enganos do nosso pecado. De fato, a
Palavra de Deus “é mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes;
penetra até dividir alma e espírito... Ela julga as disposições do coração” (Hb
4,12). Neste sentido, a Palavra de Deus não é um anestésico para a nossa
consciência, mas um choque para nos acordar do sono da distração e nos tornar
conscientes das mudanças que precisamos fazer em nossa vida, se quisermos ser
salvos e/ou salvar aquilo que amamos.
“Espero em tua palavra” (Sl 119,74). O
Deus que é Palavra se fez Pessoa humana em seu Filho Jesus Cristo e veio
habitar entre nós: “E a Palavra se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1,14). Desse
modo, vemos Jesus centralizar o seu ministério na pregação da Palavra: “Ele
ensinava nas suas sinagogas” (Lc 4,15). “Jesus percorria todas as cidades e
povoados ensinando em suas sinagogas e pregando o Evangelho do Reino” (Mt
9,35). Sempre que participamos de uma celebração, estamos ali para aprender; o
Senhor deseja nos ensinar por meio da sua Palavra. Daí a importância do nosso
silêncio e da nossa atenção: “E todo o povo escutava com atenção a leitura do livro da Lei” (Ne 8,3).
“Conforme seu costume entrou na sinagoga
no sábado, e levantou-se para fazer a leitura” (Lc 4,17). O lugar da proclamação,
da escuta e do ensino da Palavra é a Igreja. E após ler um texto do profeta
Isaías que dizia respeito ao próprio Jesus, o Cristo, o Ungido de Deus – “O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para...”
(Lc 4,18) –, Jesus “começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu esta passagem da
Escritura que acabastes de ouvir’” (Lc 4,21). “Hoje”! Jesus é o hoje de Deus
para cada um de nós. O Deus que falou ontem por meio de Moisés e dos Profetas
nos fala hoje por meio de seu Filho (cf. Hb 1,1-2). “Todas as promessas de Deus
encontraram nele (em Jesus Cristo) o seu sim” (2Cor 1,20), isto é, o seu
cumprimento, a sua realização.
“Hoje se cumpriu” (Lc 4,21). Cada
palavra que Deus nos dirige contém uma promessa, e cada promessa encontra em
Jesus o seu pleno cumprimento. Desse modo, quando dizemos: “Espero em tua
palavra” (Sl 119,74), estamos dizendo que esperamos em Jesus Cristo que o Pai
cumpra cada palavra sua em vista da nossa redenção, da nossa salvação. Recordemos,
enfim, as palavras de Jesus à Igreja de Filadélfia, no livro do Apocalipse: “Eis
que coloquei à tua frente uma porta aberta que ninguém poderá fechar, pois tens
pouca força, mas guardaste minha palavra e não renegaste o meu nome” (Ap 3,8).
O nome dessa porta que foi aberta por Jesus e que ninguém poderá fechar se
chama: ESPERANÇA! Ela está garantida para todos os que guardam, observam, põem
em prática a palavra de Jesus.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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