Missa do 15º dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 55,10-11; Romanos 8,18-23; Mateus 13,1-9
Nas
diversas áreas da nossa vida – afetiva, profissional e espiritual –, nós
queremos resultados. Quando eles não vêm, nós abandonamos o projeto que
havíamos abraçado e vamos em busca de outro. Mas, além da busca por resultados,
nós estamos cada vez mais imediatistas: queremos colher hoje o que plantamos
ontem. Esquecemos de que as mudanças ou os resultados que mais desejamos em
nossa vida só surgirão se o processo for respeitado. Semear, germinar, crescer,
florescer e frutificar é um processo. Portanto, quando não vemos os resultados
(frutos) que esperamos, precisamos nos perguntar, primeiro, se nós lançamos as
sementes certas. Afinal de contas, como é possível colher aquilo que não
plantamos? Em segundo lugar, é preciso perguntar se estamos respeitando o
processo, o que significa não sermos imediatistas.
O
texto de Isaías e o Evangelho que ouvimos hoje nos falam da eficácia da Palavra
de Deus: o que Ele fala, realiza. Quando a Sagrada Escritura afirma que “Deus
é fiel” está afirmando que existe 100% de correspondência entre o seu falar e
o seu agir: “Eu estou vigiando sobre minha palavra para realiza-la” (Jr 1,12); “O
que sai da minha boca é a verdade, uma palavra que não voltará atrás” (Is
45,23); “a palavra que sair de minha boca: não voltará
para mim vazia;
antes, realizará tudo que for de minha vontade e
produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la” (Is 55,11).
Jesus
é ao mesmo tempo o Semeador e a semente – Palavra viva de Deus! Ele semeou o
Evangelho em todo tipo de terreno, isto é, no coração de toda e qualquer pessoa.
Mas o resultado dessa semeadura foi decepcionante! Dos 100% das sementes lançadas,
somente 25% frutificaram; os outros 75% se perderam! O que você faria se se
empenhasse 100% numa causa, num projeto, e visse que o resultado final foi bem
sucedido somente em 25%? Você abandonaria o projeto? Você se encheria de
desânimo, de pessimismo e deixaria de semear?
Quando nos doamos 100% para uma causa e vemos que o
resultado foi de apenas 25%, não há como não nos sentirmos fracassados. Jesus
certamente se questionou sobre isso, mas ele entendeu que o problema não estava
nele – Semeador –, nem na semente – Evangelho; o problema estava no tipo de
terreno, ou seja, na forma como as pessoas ouviam e acolhiam a sua Palavra. Assim
como a semente só pode germinar num terreno arado (aberto para receber o que
ali é semeado), assim a eficácia da Palavra de Deus depende absolutamente da
boa disposição da pessoa em ouvir, acolher e esperar, até que a Palavra se
cumpra, a exemplo de Maria: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38),
ou do salmista: “Eu espero, Senhor, eu espero com toda a minha alma, esperando
tua palavra” (Sl 130,5).
Segundo Jesus, três atitudes nossas neutralizam a
eficácia da Palavra de Deus em nós. A primeira é a distração ou a desatenção com que ouvimos
a Palavra: “Algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram” (Mt 13,4). O próprio Jesus explica
que os pássaros que comem a semente representam o Maligno: “vem o Maligno e
rouba o que foi semeado em seu coração” (Mt 13,19). Concretamente, o Maligno é
a distração em nossas celebrações (a pessoa que conversa ao lado, o celular, a
falta de esforço em se concentrar...). A segunda atitude é a superficialidade:
a pessoa se alegra ao ouvir a Palavra de Deus, “mas não tem raiz em si mesma, é
de momento:
quando chega o sofrimento ou a perseguição, por causa da palavra, ela desiste logo” (Mt
13,21). Essa é a grande marca do nosso tempo: ser de momento, ser movido pela
emoção e não suportar contrariedade ou adversidade justamente por viver segundo
o Evangelho. Enfim, a terceira atitude é o conflito de interesses: a pessoa “ouve
a palavra,
mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a palavra, e ela (a pessoa) não dá fruto” (Mt 13,22). Entre obedecer
à Palavra de Deus, que visa a nossa conversão e a nossa salvação, e se deixar seduzir
pelas ilusões do mundo, que nos prometem bem-estar e sucesso, a segunda opção é
muito mais atraente!
Então, onde
você se encontra: entre as 75% de pessoas que não se deixam transformar pela
Palavra de Deus, ou entre as 25%, que se dispõem a fazer um caminho com Deus,
respeitando o processo de escuta, acolhida e interiorização da Palavra, de
forma que ela modifique as suas atitudes no dia a dia? Com quem você prefere
estar: com a maioria ou com a minoria? Como você reage, quando a Palavra de
Deus é contrária à sua vontade, aos seus desejos? Lembre-se do que disse Santo
Agostinho: “A palavra de Deus é o inimigo da tua vontade, até tornar-se
originador da tua salvação. Então, a palavra de Deus também estará em harmonia
contigo”.
“Quem
tem ouvidos, ouça!” (Mt 13,9). Na Sagrada Escritura, ouvir significa obedecer.
Ouvir a Palavra de Deus e não obedecê-la significa arrancar a semente que foi
plantada em nós, impedindo, desse modo, que o processo da mudança, da cura, da
transformação aconteça. “Quem tem ouvidos, ouça!” (Mt 13,9). O apóstolo Paulo
nos convida a ouvir o gemido do Espírito Santo em nós.: “Sabemos que toda a criação, até ao tempo
presente,
está gemendo como que em dores de parto. E não somente ela, mas nós também, que temos os
primeiros frutos do Espírito, estamos interiormente gemendo, aguardando
a adoção filial e a libertação para o nosso corpo” (Rm 8,22-23).
O processo da germinação da semente é doloroso,
porque supõe o tempo da espera, mas é uma espera carregada de esperança: o que
Deus falou, cumprirá! Sendo assim, cada um de nós precisa escolher como avaliar a sua vida:
se a partir dos resultados ou se a partir dos processos. Mais importante do que
ver mudanças rápidas (resultados) em nossa vida é iniciar processos – lançar diariamente
as sementes das mudanças que desejamos; sobretudo, as que Deus quer para cada
um de nós. Por isso, ao invés de lamentar pelos frutos que não surgem no campo
da nossa existência, perguntemos se temos lançado as sementes desses frutos.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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