quinta-feira, 13 de julho de 2023

MAIS IMPORTANTE DO QUE COLHER RESULTADOS É INICIAR PROCESSOS

Missa do 15º dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 55,10-11; Romanos 8,18-23; Mateus 13,1-9

 

            Nas diversas áreas da nossa vida – afetiva, profissional e espiritual –, nós queremos resultados. Quando eles não vêm, nós abandonamos o projeto que havíamos abraçado e vamos em busca de outro. Mas, além da busca por resultados, nós estamos cada vez mais imediatistas: queremos colher hoje o que plantamos ontem. Esquecemos de que as mudanças ou os resultados que mais desejamos em nossa vida só surgirão se o processo for respeitado. Semear, germinar, crescer, florescer e frutificar é um processo. Portanto, quando não vemos os resultados (frutos) que esperamos, precisamos nos perguntar, primeiro, se nós lançamos as sementes certas. Afinal de contas, como é possível colher aquilo que não plantamos? Em segundo lugar, é preciso perguntar se estamos respeitando o processo, o que significa não sermos imediatistas.

            O texto de Isaías e o Evangelho que ouvimos hoje nos falam da eficácia da Palavra de Deus: o que Ele fala, realiza. Quando a Sagrada Escritura afirma que “Deus é fiel” está afirmando que existe 100% de correspondência entre o seu falar e o seu agir: “Eu estou vigiando sobre minha palavra para realiza-la” (Jr 1,12); “O que sai da minha boca é a verdade, uma palavra que não voltará atrás” (Is 45,23); “a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la” (Is 55,11).

            Jesus é ao mesmo tempo o Semeador e a semente – Palavra viva de Deus! Ele semeou o Evangelho em todo tipo de terreno, isto é, no coração de toda e qualquer pessoa. Mas o resultado dessa semeadura foi decepcionante! Dos 100% das sementes lançadas, somente 25% frutificaram; os outros 75% se perderam! O que você faria se se empenhasse 100% numa causa, num projeto, e visse que o resultado final foi bem sucedido somente em 25%? Você abandonaria o projeto? Você se encheria de desânimo, de pessimismo e deixaria de semear?

Quando nos doamos 100% para uma causa e vemos que o resultado foi de apenas 25%, não há como não nos sentirmos fracassados. Jesus certamente se questionou sobre isso, mas ele entendeu que o problema não estava nele – Semeador –, nem na semente – Evangelho; o problema estava no tipo de terreno, ou seja, na forma como as pessoas ouviam e acolhiam a sua Palavra. Assim como a semente só pode germinar num terreno arado (aberto para receber o que ali é semeado), assim a eficácia da Palavra de Deus depende absolutamente da boa disposição da pessoa em ouvir, acolher e esperar, até que a Palavra se cumpra, a exemplo de Maria: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), ou do salmista: “Eu espero, Senhor, eu espero com toda a minha alma, esperando tua palavra” (Sl 130,5).

Segundo Jesus, três atitudes nossas neutralizam a eficácia da Palavra de Deus em nós. A primeira é a distração ou a desatenção com que ouvimos a Palavra: “Algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram” (Mt 13,4). O próprio Jesus explica que os pássaros que comem a semente representam o Maligno: “vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração” (Mt 13,19). Concretamente, o Maligno é a distração em nossas celebrações (a pessoa que conversa ao lado, o celular, a falta de esforço em se concentrar...). A segunda atitude é a superficialidade: a pessoa se alegra ao ouvir a Palavra de Deus, “mas não tem raiz em si mesma, é de momento: quando chega o sofrimento ou a perseguição, por causa da palavra, ela desiste logo” (Mt 13,21). Essa é a grande marca do nosso tempo: ser de momento, ser movido pela emoção e não suportar contrariedade ou adversidade justamente por viver segundo o Evangelho. Enfim, a terceira atitude é o conflito de interesses: a pessoa “ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a palavra, e ela (a pessoa) não dá fruto” (Mt 13,22). Entre obedecer à Palavra de Deus, que visa a nossa conversão e a nossa salvação, e se deixar seduzir pelas ilusões do mundo, que nos prometem bem-estar e sucesso, a segunda opção é muito mais atraente!

Então, onde você se encontra: entre as 75% de pessoas que não se deixam transformar pela Palavra de Deus, ou entre as 25%, que se dispõem a fazer um caminho com Deus, respeitando o processo de escuta, acolhida e interiorização da Palavra, de forma que ela modifique as suas atitudes no dia a dia? Com quem você prefere estar: com a maioria ou com a minoria? Como você reage, quando a Palavra de Deus é contrária à sua vontade, aos seus desejos? Lembre-se do que disse Santo Agostinho: “A palavra de Deus é o inimigo da tua vontade, até tornar-se originador da tua salvação. Então, a palavra de Deus também estará em harmonia contigo”.

“Quem tem ouvidos, ouça!” (Mt 13,9). Na Sagrada Escritura, ouvir significa obedecer. Ouvir a Palavra de Deus e não obedecê-la significa arrancar a semente que foi plantada em nós, impedindo, desse modo, que o processo da mudança, da cura, da transformação aconteça. “Quem tem ouvidos, ouça!” (Mt 13,9). O apóstolo Paulo nos convida a ouvir o gemido do Espírito Santo em nós.: “Sabemos que toda a criação, até ao tempo presente, está gemendo como que em dores de parto. E não somente ela, mas nós também, que temos os primeiros frutos do Espírito, estamos interiormente gemendo, aguardando a adoção filial e a libertação para o nosso corpo” (Rm 8,22-23).

O processo da germinação da semente é doloroso, porque supõe o tempo da espera, mas é uma espera carregada de esperança: o que Deus falou, cumprirá! Sendo assim, cada um de nós precisa escolher como avaliar a sua vida: se a partir dos resultados ou se a partir dos processos. Mais importante do que ver mudanças rápidas (resultados) em nossa vida é iniciar processos – lançar diariamente as sementes das mudanças que desejamos; sobretudo, as que Deus quer para cada um de nós. Por isso, ao invés de lamentar pelos frutos que não surgem no campo da nossa existência, perguntemos se temos lançado as sementes desses frutos.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

Nenhum comentário:

Postar um comentário