quinta-feira, 21 de julho de 2022

ESTAR DIANTE DO PAI NÃO POR NECESSIDADE, MAS POR AMOR

 Missa do 17º. dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 18,20-32; Colossenses 2,12-14; Lucas 11,1-13.

 

            Muitas pessoas deixaram de elevar seus olhos e suas mãos ao céu, assim como também deixaram de dobrar seus joelhos para fazer uma oração. Elas se perguntam: “Para quê rezar a um Deus que eu não vejo, a um Deus que eu não sinto que me ama e que se importa comigo?”. “Para quê rezar a um Deus que não impede catástrofes, nem tragédias, um Deus que permite que o Mal ande livremente pelo mundo?”. “Para quê continuar rezando a um Deus que disse ‘não’, quando eu pedi que curasse meu filho, que salvasse meu casamento, que me livrasse de uma situação de dor?”.

            A primeira coisa que precisamos fazer, se não quisermos abandonar a nossa vida de oração, é desistir de querer usar Deus a nosso favor. Nossa oração, por mais bem feita que seja, não tem o poder de controlar Deus e de forçá-Lo a fazer aquilo que achamos que Ele tem que nos fazer. “Tu és um Deus que se esconde”, afirma o profeta Isaías (45,15), isto é, um Deus que nenhum ser humano pode manipular ou controlar. Ao mesmo tempo, Deus nos garante: “Eu nunca disse: ‘Procurem-me inutilmente’” (Is 45,19). Pelo contrário: “Ele está perto de toda pessoa que o invoca, de todos aqueles que o invocam sinceramente” (Sl 145,18).  

            Jesus sempre entendeu a oração como o momento em que Ele se deixava amar e cuidar pelo Pai, e é assim que Ele deseja que vivamos nossa vida de oração: não como escravos que suplicam migalhas ao seu patrão, mas como filhos que, quando iniciam sua oração, devem estar convencidos de uma coisa: “O Pai de vocês sabe do que vocês necessitam antes de lhe pedirem alguma coisa” (Mt 6,8). Portanto, a atitude mais importante em nossa oração é a confiança: “Aquele que se aproxima de Deus deve crer que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11,6). Essa recompensa não significa que Deus sempre nos dará exatamente aquilo que estamos lhe pedindo, mas a certeza de que Ele nos dará sempre aquilo que estamos necessitando para aquele momento. Assim como Jesus, precisamos ter a convicção de que toda oração que fazemos é ouvida por Deus: “Pai, eu sei que tu sempre me ouves” (Jo 11,41-42). Contudo, depois de nos ouvir, o Pai fará o que Ele sabe ser o melhor para nós, o que nem sempre coincide com os nossos desejos.   

            Normalmente, nós entendemos a oração como um momento de pedir coisas a Deus. Jesus quer nos ensinar a rezar de outra maneira, de modo que nossa oração se transforme em um relacionamento com o Pai. Como um pai ou uma mãe se sentiria se seu filho só o(a) procurasse quando estivesse precisando de algo? Jesus quer que vivamos a oração como um estar na presença d’Aquele que nos ama e que deseja cuidar de nós. Neste sentido, a atitude mais importante na oração é a disponibilidade, a mesma atitude do barro que se abandona confiantemente nas mãos do Oleiro, para que possa ser moldado, consertado, refeito, transformado: “Faça-se em mim, segundo a sua vontade” (Lc 1,38); “Completai em mim a obra começada” (Sl 138,8); numa palavra: Torna-me a pessoa que fui chamada a ser!

            Algo que precisamos ter cuidado na oração é revisar as nossas atitudes no dia a dia: “Quando vocês estendem as mãos, desvio de vocês os meus olhos; ainda que multipliquem as suas orações não ouvirei vocês. As mãos de vocês estão cheias de sangue... Parem de praticar o mal, aprendam a fazer o bem!” (Is 1,15-17). Se queremos que nossa oração seja ouvida, precisamos deixar de ter atitudes que favoreçam a injustiça e prejudiquem pessoas. Se na oração buscamos a Deus como Pai, devemos nos esforçar por viver como irmãos de todo ser humano.

            A oração de Abraão, intercedendo por Sodoma e Gomorra, nos lembra que nossa oração precisa ir além dos nossos interesses particulares. A humanidade como um todo necessita da nossa oração, especialmente as pessoas que estão sofrendo; as que estão perdidas; as que estão no erro, no pecado; as que estão desesperadas; as que nos perseguem e nos prejudicam; as que sofrem injustiças etc. Da mesma forma como Deus “quer que todos os homens sejam salvos” (1Tm 2,4), oramos pela salvação de todo ser humano.   

                Vejamos agora A ORAÇÃO DE JESUS* – “Pai!”. Esta é sempre a primeira palavra de Jesus ao dirigir-se a Deus. Ela convida a entrar numa atmosfera de confiança e intimidade que vai impregnar todos os pedidos que seguem. “Santificado seja o teu nome”. É o primeiro desejo que nasce da alma de Jesus, sua aspiração mais ardente. Que todos conheçam a bondade e a força salvadora que teu nome santo encerra. Que sejam banidos os nomes dos deuses e ídolos que matam teus pobres. Que todos bendigam teu nome de Pai bom. “Venha o teu reino”. É esta a paixão da vida de Jesus, seu objetivo último. Que a “semente” da tua força continue crescendo, e que o “fermento” de teu reino fermente tudo. Que os que sofrem sintam tua ação curadora. Enche o mundo com tua justiça e tua verdade, com tua compaixão e teu perdão. “Dá-nos hoje nosso pão de cada dia”. Que a ninguém falte pão hoje. Não te pedimos dinheiro nem bem-estar abundante, não queremos riquezas para acumular, só pão para todos. “Perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores”. Estamos em dívida com Deus. É nosso grande pecado: não corresponder ao amor do Pai. Não desejamos alimentar em nós ressentimentos nem desejos de vingança contra ninguém. Queremos que teu perdão transforme nossos corações e nos faça viver perdoando-nos mutuamente. “Não nos deixes cair na tentação”. Somos seres fracos. O mistério do mal nos ameaça. Dá-nos tua força. Não nos deixes cair derrotados na prova final. Que no meio da tentação e do mal possamos contar com tua ajuda poderosa (*José A. Pagola, Jesus – aproximação histórica, pp.392-396).    

            Enfim, após nos falar da importância da perseverança na oração, de modo a se tornar uma prática diária (cf. Lc 11,9-10), Jesus nos indica o pedido mais importante: que o Pai nos dê o Espírito Santo! Mais do que um pouco de água para saciar a nossa sede, o Espírito Santo é a fonte de água viva em nós. Mais do que um pouco de força para nos ajudar em nossas lutas, o Espírito Santo é a força do Alto que nos sustenta. Mais do que uma proteção temporária em nossa vida, o Espírito Santo é o Defensor que nos protegerá contra o Mal; mais do que um pouco de vida dentro de nós, o Espírito Santo é a garantia da nossa futura ressurreição; enfim, mais do que nos dar algum dom de Deus, o Espírito Santo é o Dom por excelência, o maior bem que o Pai pode dar a um filho Seu; Ele é o amor do Pai derramado em nossos corações (cf. Rm 5,5); somente Ele pode orar em nós segundo os desígnios do Pai a nosso respeito (cf. Rm 8,26)!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi  

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