quinta-feira, 16 de outubro de 2014

NÃO DAR A CÉSAR O QUE É DE DEUS

Missa do 29º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 45,1,4-6; 1Tessalonicenses 1,1-5b; Mateus 22,15-21.

“Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). Com essas palavras, Jesus deixa claro que César não é Deus, e nunca devemos dar a César o que é de Deus. Mas, quem é César? Na época de Jesus, o Império Romano dominava o que hoje conhecemos como sendo a Palestina, e os judeus eram obrigados a pagar impostos a Roma. César era o nome dado a todo imperador romano, um nome que equivale a “soberano”, “altíssimo”, “senhor”, “dominador”, “divino”. Por causa da dominação política, da cobrança de impostos e da pretensão de ser adorado como uma espécie de deus, César era odiado pelos judeus.
Ao responder a respeito do pagamento do imposto, Jesus deixa claro que nenhum César é Deus. Além disso, todo ser humano, embora vivendo numa sociedade governada por algum César, é “propriedade” sagrada de Deus, e não “moeda de troca” de algum César. Por mais poder que algum César tenha no mundo de hoje, ele não é Deus. A própria História registra isso: todos os impérios caem, assim como todos os Césares morrem.  
Embora vivamos num país democrático, onde podemos escolher quem queremos que seja o nosso César – e no próximo domingo faremos esta escolha – César se impõe sobre nós por meio de impostos. Neste sentido, o Brasil tem dois agravantes: além de ser um dos países do mundo onde mais se paga imposto, é também um dos países que lidera a lista da corrupção associada à impunidade, o que joga no descrédito a destinação dos impostos que pagamos.
Habituados a conviver com esta realidade injusta, onde nos sentimos constantemente roubados por César – nomeadamente, pelo Governo – nós, quando conseguimos, pagamos César na mesma moeda: mentimos, trapaceamos, encontramos brechas e também passamos a ter atitudes corruptas, com a justificativa de que esta é a única forma de sobreviver num país como o nosso.
Jesus nos ensina que não devemos dar a César o que é de Deus. Mas, quem é Deus? Por meio do profeta Isaías (1ª. leitura), o próprio Deus assim se definiu: “Eu sou o Senhor, não existe outro: fora de mim não há deus... Eu sou o Senhor, não há outro” (Is 41,5.6). Reconhecer Deus como “Senhor” significa acatar a verdade de que ninguém está acima d’Ele; ninguém é poderoso como Ele; Deus, o Senhor, é nossa única Rocha (segurança), nosso único Salvador, nosso único Redentor. “Fora de mim não há Deus”. Fora d’Ele não há salvação, não há vida, não há paz, não há luz, não há justiça, não há cura, não há libertação, não há alegria...
Não dar a César o que é de Deus significa, entre outras coisas, não deformar a nossa consciência pela prática da corrupção só porque César é o primeiro e grande corrupto, afinal não é a ele que deveremos prestar contas, mas a Deus, o justo Juiz, a Quem nenhum dinheiro pode corromper. A César devemos o respeito para com as leis, na medida em que elas estão a serviço da justiça, do direito, da vida e da dignidade humana. Por exemplo, se por um lado a “Lei da palmada” não proíbe a palmada corretiva, mas aquela que causa sofrimento físico ou se reveste de crueldade, por outro deve ficar claro que não cabe a César (Governo) dizer como você tem que educar seus filhos.
Neste ano, César (Governo) fez de tudo para impor a “Ideologia de gênero” nas escolas, mas não conseguiu, sobretudo devido à oposição da bancada evangélica e de políticos que se declaram católicos praticantes no Congresso. Esta ideologia propaga a ideia de que a criança nasce sem um sexo definido. Portanto, quando a criança nasce não deve ser considerada do sexo masculino ou do sexo feminino; depois ela fará esta escolha. Assim, nas escolas elas não podem ser chamadas de “menino” ou “menina”, mas apenas de “crianças”, porque elas devem decidir quando crescer se serão homens ou mulheres.
Ora, nós devemos dar a César o poder de direcionar a formação da identidade sexual dos nossos filhos, ou cabe a nós, família, ajudar os nossos filhos a amadurecerem a sua identidade sexual a partir de uma saudável convivência com a figura masculina e a figura feminina dentro de casa? Se César não consegue colocar a sua própria casa em ordem, como pode se achar em condições e no direito de criar leis para colocar “em ordem” – ou o que ele entende por “ordem” – a nossa? Um César que não governa sua própria casa tem alguma autoridade moral para governar a nossa?     
Duas palavras finais. 1) Se você quer saber o que cabe dar a Deus, reflita sobre essas palavras da Escritura: “Foi-te anunciado, ó homem, o que é bom, e o que o Senhor exige de ti: nada mais do que praticar a justiça, amar a bondade e caminhar humildemente com teu Deus!’ (Mq 6,6-8). 2) Como no próximo domingo vamos escolher o nosso César, vale esta advertência de Deus: “Eles instituíram reis sem o meu consentimento, escolheram príncipes, mas eu não tive conhecimento... Porque semeiam vento, colherão tempestade!” (Os 8,4.7). Em outras palavras, consulte a voz de Deus na sua consciência antes de votar.

                                                      Pe. Paulo Cezar Mazzi

4 comentários:

  1. Eu, sou um grande pecador, não sou um homem santo e tenho em mim a vergonha de meus atos.
    Mas, em meu coração a voz de Deus se manifestou em Medellin e Puebla. Quando os bispos em oração atentam para o fenômeno da desigualdade e da injustiça na América Latina, que gera uma situação de “pobreza desumana em que vivem milhões de latino-americanos”, fato visto como “escândalo e contradição com o ser cristão”. Os Bispos dizem que é preciso responder aos imensos desafios à evangelização, que busca promover o encontro com Cristo para transformar um contexto de marginalização, desrespeito aos direitos humanos, subversão dos valores culturais, desagregação familiar e dos demais valores cristãos, os bispos pedem que se veja o rosto concreto do povo peregrino que sofre. As feições das crianças, “golpeadas pela pobreza ainda antes de nascer”; dos jovens “desorientados por não encontrarem seu lugar na sociedade”; dos indígenas e afro-americanos “segregados”; dos camponeses, submetidos à exploração; dos operários, “que têm dificuldades em defender os próprios direitos”; dos desempregados; dos marginalizados e amontoados nas grandes cidades; dos anciãos, “postos à margem” por uma sociedade “que prescinde das pessoas que não produzem”. Paz e Bem !!! (Meu silêncio... minha oração... pelos pobres...).

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    1. Caro Gilberto, também creio na necessidade de que a nossa Igreja seja, como quis Medellin e Puebla, e como quer o Papa Francisco, uma Igreja pobre para os pobres. Reconheço os avanços sociais que o Brasil conquistou com o Governo do PT. Contudo, foi e tem sido decepcionante a compactuação com a corrupção a qual, no fundo, se tornou uma espécie de "lei da sobrevivência" para qualquer partido que queira governar o Brasil. Além disso, fico indignado com a forma como algumas pessoas, dentro do PT, querem como que levar à morte valores que já estão profundamente feridos em nossa sociedade, como a família e a formação da identidade sexual de cada pessoa. Foi neste sentido que escrevi a reflexão sobre a intromissão de César dentro da casa de cada um de nós. Agradeço por sua partilha. Forte abraço. Pe. Paulo.

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  2. Estimado Padre Paulo, com todo respeito e sem julgar o que o senhor escreveu, apenas gostaria de salientar que a publicação desse texto se deu em momento inoportuno ou foi politicamente tendencioso, explico:
    - momento inoportuno: no meu ponto de vista quando coloca uma questão pontual, de relevância, não tenho dúvidas, mas pontual, o governo fica reduzido apensa a uma única questão, no entanto, o projeto de governo é muito mais que isso, ou seja, é um projeto político que distribui renda, que tirou milhares de pessoas da linha da pobreza e da miséria, que deu oportunidade ao jovens pobres de estudarem gratuitamente (PROUNI, PRONATEC, FIES), que deu oportunidade dos estudantes universitários a estudarem no exterior (Ciência Sem Fronteiras), que deu oportunidade ao pobre de ter uma moradia com baixo custo (Minha Casa, Minha Vida), aumentou os recursos na educação (FUNDEB), incluindo creches, disponibilizou médicos aos mais carentes, através dos programa Mais Médico, aumentou a renda do trabalhador com ganhos reais no salário, enfim, foram um sem-número de programas em benefício do povo brasileiro, a favor da vida, em especial, aos que mais necessitam. Portanto, reitero, caro Padre Paulo, essa questão pontual, e que ao sequer está em vigência, não deveria ser utilizada como parâmetro para medir uma programa de governo que beneficiou milhões de pessoas, principalmente os mais necessitados.
    - politicamente tendenciosa: no estado democrático e quando não queremos tomar um lado, devemos dar o mesmo tratamento às partes, mas, não foi o que percebi, pois, o senhor se referiu ao governo federal, pois, o primeiro turno eleitoral já ocorrera e no nosso estado não haverá segundo turno, portanto, só resta um governo ao qual o senhor se refere, o federal. Daí eu lhe digo que, para não ser injusto, o senhor deveria ter feito considerações a respeito do governo do estado de São Paulo antes das votações do primeiro turno, assim com o faz nesse momento, pois, foi o senhor José Serra, eleito senador que, segundo entendimento de vários religiosos católicos, editou portaria a favor do aborto quando ministro da saúde, é o senhor Geraldo Alckimin que trata os professores estaduais como extrema indiferença, arrogância e desprezo, com salários de fome e com cassetete nas costas quando vamos reivindicar nossos direitos. É o governo do estado de São Paulo que não enviar recursos financeiros aos municípios para ser aplicado na saúde, enfim...
    Padre Paulo, com toda admiração que tenho por ti e o maior respeito, vamos marcar uma conversa, pois, tenho alguns projetos do governo municipal, como a Contribuição de Iluminação Pública – CIP; Planta Genérica – IPTU, este último com reajustes que vão até 180%, que estão em discussão na Câmara Municipal e que lhes darão vários subsídios para que o senhor se posicione, inclusive seja um grande incentivador para que nossa comunidade católica participe ativamente das decisões de nossa cidade, aliás, quando desejamos mudança, as mesmas devem começar em nós ou no nosso entorno. Prof. João Roberto – profjoaoroberto@camarajaboticabal.sp.gov.br ou 3209-9486

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    1. Caro João, agradeço por sua resposta esclarecedora e reconheço que, de fato, passei uma imagem de estar sendo parcial na minha reflexão. Quando fiz a homilia "ao vivo" consegui colocar os dois lados da questão, isto é, as denúncias de corrupção tanto em relação ao PT como em relação ao PSDB. Quero, sim, me sentar com você para conversarmos sobre os seus projetos para a população de Jaboticabal. Um forte abraço. Pe. Paulo.

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