sexta-feira, 4 de julho de 2014

DESCANSA EM MIM

Missa do 14º. dom. comum. Palavra de Deus: Zacarias 9,9-10; Romanos 8,9.11-13; Mateus 11,25-30.

 “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). Quais são os nossos fardos? Existe o fardo de estar sozinho(a), mas também existe o fardo de se estar com alguém (relacionamento problemático, conflituoso). Existe o fardo do trabalho, o qual exige de nós sempre mais eficiência e resultado, mas existe também o fardo do desemprego. Existem os fardos dos conflitos que vivenciamos no contato com o mundo, mas existem também os fardos dos nossos conflitos interiores. O outro pode ser um fardo para mim, mas não posso me esquecer de que eu mesmo sou, de certa forma, o meu fardo. Daí o conselho do apóstolo Paulo: “Cada um examine sua própria conduta... Pois cada qual carregará o seu próprio fardo” (Gl 6,5).  
No Evangelho que acabamos de ouvir, Jesus não nos promete uma vida sem fardos, mas nos convida a revermos a raiz do nosso cansaço: o que é, de fato, que tem nos pesado, nos esgotado? Talvez nós estejamos carregando fardos desnecessários, criados ou alimentados por nós mesmos, como o fardo de um passado não aceito, de uma dor não digerida, de uma ofensa não perdoada; o fardo de sermos explorados pelos outros simplesmente porque não temos a coragem de lhes dizer “não”, nos esquecendo de que as pessoas nos tratam como nós permitimos ser tratados por elas. Então, lembre-se disso: existem fardos que você não precisa carregar.
Mas vamos analisar um outro tipo de fardo... Certa vez, alguém viu uma menina bem pobre carregando seu irmãozinho nas costas, e perguntou-lhe: “Ele não é pesado?” A menina respondeu: “Não! É meu irmão!” Quando falamos de fardos, a primeira ideia que nos vem à mente é nos livrarmos deles, jogá-los fora. Quando o relacionamento pesa, quando os pais idosos pesam, quando os filhos pesam, quando os valores como a integridade, a retidão, a fidelidade, o ideal de amar até o fim pesam, o mundo também nos pergunta: “Isto não está pesado? Você não gostaria de jogá-lo fora, de livrar-se desse fardo?” Se você consegue enxergar a pessoa além do “peso” que ela agora está sendo na sua vida, você também dirá: “Não! É meu marido! É minha esposa! São meus pais! São meus filhos! É a minha família! É o meu trabalho! São os meus valores!”
Por que Jesus tocou nessa questão do fardo com as pessoas que estavam à sua volta? Porque elas viviam oprimidas pela forma como os fariseus interpretavam a religião. O próprio Jesus já havia descrito os líderes religiosos da sua época como pessoas que “amarram pesados fardos e os põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com um só dedo se dispõem a movê-los” (Mt 23,4). Jesus não veio nos propor uma religião light, soft, de “baixas calorias espirituais”, de um mínimo ou de nenhum compromisso com Deus e com a Igreja. Ele mesmo disse: “Tomai sobre vós o meu jugo, (...) pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,29-30). Há um jugo a ser carregado, há um fardo a ser suportado: o jugo ou o fardo da vivência do Evangelho em nosso dia a dia, de viver segundo o espírito (vontade de Deus) e não segundo a carne (nosso egoísmo), cf. Rm 8,9.13.
Muitos estão cansados: cansados fisicamente (trabalho), psicologicamente (relacionamentos) e também espiritualmente (na fé e na esperança). Mas de novo precisamos nos lembrar de que por trás de uma pessoa cansada, sobrecarregada, há alguém folgado. É preocupante o comportamento da geração moderna: não aceita nenhum fardo. Tudo lhes pesa, menos ficar horas a fio na internet. Quebram emocionalmente diante de qualquer coisa que lhes represente um peso, um problema, uma dificuldade. São crianças, adolescentes e jovens que exigem tudo dos outros e não estão dispostos a dar nada de si. Fica a pergunta: eles nasceram assim, ou foram criados assim?  
“Cada um examine sua própria conduta... Pois cada qual carregará o seu próprio fardo” (Gl 6,5). Se você se sente cansado(a), esgotado(a) ou mesmo explorado(a) pelos outros, analise se esse fardo não é consequência de você não saber / não ter a coragem dizer “não”, de colocar limites, de não permitir ser sugado(a) / esgotado(a) / explorado(a) pelos outros. Jesus disse: “(...) aprendei de mim, que sou manso e humildade de coração, e vós encontrareis descanso” (Mt 11,29). A mansidão e a humildade de Jesus nos convidam a pararmos de cair na armadilha da mania de grandeza, a reconhecer que nós não somos o centro do mundo, a termos consciência das nossas capacidades, mas também dos nossos limites.
Reze sua vida diante do Evangelho de hoje com a música “Descansa em Mim” (Walmir Alencar):  

http://www.vagalume.com.br/walmir-alencar/descansa-em-mim.html

                                                                                                                                                                             Pe. Paulo Cezar Mazzi

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