Missa do 14º. dom. comum.
Palavra de Deus: Zacarias 9,9-10; Romanos 8,9.11-13; Mateus 11,25-30.
“Vinde a mim todos vós que estais cansados e
fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28).
Quais são os nossos fardos? Existe o fardo de estar sozinho(a), mas também
existe o fardo de se estar com alguém (relacionamento problemático, conflituoso).
Existe o fardo do trabalho, o qual exige de nós sempre mais eficiência e
resultado, mas existe também o fardo do desemprego. Existem os fardos dos
conflitos que vivenciamos no contato com o mundo, mas existem também os fardos
dos nossos conflitos interiores. O outro pode ser um fardo para mim, mas não
posso me esquecer de que eu mesmo sou, de certa forma, o meu fardo. Daí o
conselho do apóstolo Paulo: “Cada um examine sua própria conduta... Pois cada
qual carregará o seu próprio fardo” (Gl 6,5).
No Evangelho que acabamos de
ouvir, Jesus não nos promete uma vida sem fardos, mas nos convida a revermos a
raiz do nosso cansaço: o que é, de fato, que tem nos pesado, nos esgotado?
Talvez nós estejamos carregando fardos desnecessários, criados ou alimentados por
nós mesmos, como o fardo de um passado não aceito, de uma dor não digerida, de
uma ofensa não perdoada; o fardo de sermos explorados pelos outros simplesmente
porque não temos a coragem de lhes dizer “não”, nos esquecendo de que as
pessoas nos tratam como nós permitimos ser tratados por elas. Então, lembre-se
disso: existem fardos que você não precisa carregar.
Mas vamos analisar um outro
tipo de fardo... Certa vez, alguém viu uma menina bem pobre carregando seu
irmãozinho nas costas, e perguntou-lhe: “Ele não é pesado?” A menina respondeu:
“Não! É meu irmão!” Quando falamos de fardos, a primeira ideia que nos vem à
mente é nos livrarmos deles, jogá-los fora. Quando o relacionamento pesa,
quando os pais idosos pesam, quando os filhos pesam, quando os valores como a
integridade, a retidão, a fidelidade, o ideal de amar até o fim pesam, o mundo
também nos pergunta: “Isto não está pesado? Você não gostaria de jogá-lo fora,
de livrar-se desse fardo?” Se você consegue enxergar a pessoa além do “peso”
que ela agora está sendo na sua vida, você também dirá: “Não! É meu marido! É
minha esposa! São meus pais! São meus filhos! É a minha família! É o meu
trabalho! São os meus valores!”
Por que Jesus tocou nessa
questão do fardo com as pessoas que estavam à sua volta? Porque elas viviam
oprimidas pela forma como os fariseus interpretavam a religião. O próprio Jesus
já havia descrito os líderes religiosos da sua época como pessoas que “amarram
pesados fardos e os põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com um
só dedo se dispõem a movê-los” (Mt 23,4). Jesus não veio nos propor uma
religião light, soft, de “baixas calorias espirituais”, de um mínimo ou de nenhum
compromisso com Deus e com a Igreja. Ele mesmo disse: “Tomai sobre vós o meu
jugo, (...) pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,29-30). Há um
jugo a ser carregado, há um fardo a ser suportado: o jugo ou o fardo da
vivência do Evangelho em nosso dia a dia, de viver segundo o espírito (vontade
de Deus) e não segundo a carne (nosso egoísmo), cf. Rm 8,9.13.
Muitos estão cansados: cansados
fisicamente (trabalho), psicologicamente (relacionamentos) e também espiritualmente
(na fé e na esperança). Mas de novo precisamos nos lembrar de que por trás de
uma pessoa cansada, sobrecarregada, há alguém folgado. É preocupante o
comportamento da geração moderna: não aceita nenhum fardo. Tudo lhes pesa,
menos ficar horas a fio na internet. Quebram emocionalmente diante de qualquer
coisa que lhes represente um peso, um problema, uma dificuldade. São crianças,
adolescentes e jovens que exigem tudo dos outros e não estão dispostos a dar
nada de si. Fica a pergunta: eles nasceram
assim, ou foram criados assim?
“Cada um examine sua própria
conduta... Pois cada qual carregará o seu próprio fardo” (Gl 6,5). Se você se
sente cansado(a), esgotado(a) ou mesmo explorado(a) pelos outros, analise se
esse fardo não é consequência de você não saber / não ter a coragem dizer “não”,
de colocar limites, de não permitir ser sugado(a) / esgotado(a) / explorado(a)
pelos outros. Jesus disse: “(...) aprendei de mim, que sou manso e humildade de
coração, e vós encontrareis descanso” (Mt 11,29). A mansidão e a humildade de
Jesus nos convidam a pararmos de cair na armadilha da mania de grandeza, a
reconhecer que nós não somos o centro do mundo, a termos consciência das nossas
capacidades, mas também dos nossos limites.
Reze sua vida diante do
Evangelho de hoje com a música “Descansa em Mim” (Walmir Alencar):
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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