quinta-feira, 5 de junho de 2014

SEM ELE, NADA PODEMOS

Missa de Pentecostes. Palavra de Deus: Atos 2,1-11; 1Cor 12,3b-7.12-13; João 20,19-23.

Jesus ressuscitado “soprou sobre eles (os discípulos) e disse ‘Recebei o Espírito Santo’” (Jo 20,22). Este sopro de Jesus, assim como aquela “forte ventania” que “veio do céu” e “encheu a casa” onde se encontravam os discípulos (cf. At 2,2), nos faz pensar: Qual é o ar que respiramos? Qual é o vento que enche a nossa casa, o nosso local de trabalho, as igrejas, as escolas, os espaços onde as pessoas se encontram ou por onde elas andam? Nossa casa, seja ela interior ou exterior, está cheia do quê: de medo ou de coragem, de alegria ou de tristeza, de esperança ou de desespero, de solidariedade ou de egoísmo?
O ar que se respira em nosso mundo é um ar de violência, de indiferença para com o outro, de intolerância, de medo, de desencanto, de insegurança etc. O vento que encheu a casa onde estavam os discípulos “veio do céu”. Por isso, clamamos ao Pai que, em nome de Seu Filho, sopre o Seu Espírito sobre nós, sobre a humanidade, e varra da terra as guerras, a violência, as drogas, a fome, as doenças, as injustiças, a corrupção etc. Mas também é necessário nos perguntar se as janelas e portas da nossa vida e da vida do nosso mundo estão abertas para receber este vento, este sopro do Espírito de Deus...
 “... apareceram línguas como de fogo... e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo” (At 2,3-4). A imagem do fogo, outro símbolo bíblico do Espírito Santo, contrasta com a frieza com que estamos nos acostumando a tratar as pessoas, tanto dentro como fora de casa, frieza até mesmo nas nossas celebrações. Esse frio que vem de dentro nos adoece, assim como adoece nossos relacionamentos. Clamamos ao Pai por este fogo do céu, para que Ele reacenda em nós a alegria, a abertura aos outros e a solidariedade; que este fogo derreta aquilo que em nós se tornou duro como ferro e nos impede de nos reaproximar, de perdoar, de voltar a amar.
O fogo que desceu do céu sobre os discípulos se parecia com línguas, de forma que eles “começaram a falar em outras línguas” (At 2,4). Isso fez com que as pessoas das várias nacionalidades que se encontravam naquele local dissessem: “todos nós os escutamos anunciar as maravilhas de Deus na nossa própria língua” (At 2,11). O que a nossa língua comunica às pessoas? Em quantas famílias existe um silêncio mórbido? Quantos de nós temos uma dificuldade enorme em falar com quem está perto de nós, mas uma facilidade igualmente enorme em falar com quem está longe, pela internet? Clamamos ao Pai para que o Seu Espírito desate a nossa língua, quebre o silêncio que fere as pessoas com quem convivemos, e que também elimine da nossa boca as palavras que igualmente ferem essas pessoas. Pedimos ainda que o Espírito Santo nos faça calar, nos faça silenciar, quando as palavras que estamos para dizer não vão edificar, não vão aproximar as pessoas de Deus (cf. Ef 4,29). Na verdade, precisamos também do silêncio para ouvir a brisa suave do Espírito de Deus (cf. 1Rs 19,12-13).    
Hoje, a Igreja suplica que o Pai derrame por toda a extensão do mundo os dons do Espírito Santo e realize, no coração dos fiéis, as maravilhas que Ele operou no dia de Pentecostes. De fato, segundo o apóstolo Paulo, o Pai concede a cada um de nós “a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12,7). O Espírito Santo faz convergir tudo para o bem comum. Desse modo, Ele reconstrói a unidade, transformando nossos muros de separação em pontes de comunhão. Sim, a graça do Espírito Santo tudo pode mudar, tudo pode transformar, tudo pode restaurar.
Num tempo de desesperança como o nosso, clamemos pelo Espírito Santo, pois a Escritura diz: “A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Numa época de sentimento de orfandade como a nossa, supliquemos pelo Espírito Santo, pois a Escritura afirma: “o próprio Espírito se une ao nosso espírito para testemunhar (para garantir) que somos filhos de Deus” (Rm 8,16). Em nossos momentos de fraqueza, nos entreguemos à graça do Espírito Santo, pois está escrito que “O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza” (Rm 8,26). Deixemos com que Ele perscrute o nosso coração e possa interceder por nós segundo o desígnio de salvação que Deus tem para conosco (cf. Rm 8,27; 1Cor 2,10-11).  

Vinde, Espírito Santo, terníssimo Consolador. Minha alma suspira por Vós, meu coração tem sede de Vós. Só Vós podeis saciar os meus anseios, só Vós podeis fazer-me feliz. Divino Esposo, não rejeiteis a morada de meu pobre coração. Sim, meu coração é impuro, mas podeis purificá-lo; meu coração é tenebroso, mas podeis iluminá-lo; meu coração é mau, mas podeis saciá-lo de amor; meu coração é triste, mas podeis consolá-lo; meu coração é fraco, mas podeis fortalecê-lo; meu coração é frio, mas podeis abrasá-lo; meu coração é terreno, mas podeis enchê-lo de desejos celestiais; meu coração é pecador, mas podeis orná-lo de todas as virtudes; meu coração é inconstante, mas podeis torná-lo perseverante. Vinde, pois, ó Espírito Santo, Pai dos pobres, vinde, inundai-me de Vosso amor!  (Autoria desconhecida)

                                         Pe. Paulo Cezar Mazzi

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