Missa do 12º.
dom. comum. Palavra de Deus: Jr 20,10-13; Rm 5,12-15; Mt 10,26-33.
No Evangelho de hoje, ouvimos Jesus
dizer por três vezes “Não tenham medo!” (Mt 10,26.28.31). O medo é um dos
nossos instintos mais primitivos: temos necessidade de nos defender de algo ou
de alguém que nos ameaça. Do quê ou de quem você sente medo hoje? Tememos pela
nossa saúde, pelo nosso emprego, pela nossa sobrevivência. Tememos pelos nossos
filhos e pela nossa família. Tememos pela nossa vida, ameaçada pelos bandidos e
pela violência sempre crescente. Tememos pelo nosso futuro. Tememos perder
coisas e pessoas. Tememos pela nossa velhice. Tememos, enfim, pela morte.
Ao
mesmo tempo em que Jesus nos ensina que grande parte do nosso medo provém da
nossa falta de confiança em Deus, ele nos faz um alerta: ‘Se é para ter medo, tenham
medo de perder a integridade de vocês, o caráter, os valores, a honra, a
honestidade, a vergonha na cara; tenham medo de ser tornarem pessoas
permissivas, corruptas, adúlteras, imorais, injustas, indiferentes ao
sofrimento alheio; numa palavra, tenham medo de perder a alma, a salvação de
vocês’.
Por que Jesus tocou na questão do
medo? Porque, ao enviar seus discípulos em missão, para anunciarem o Evangelho
a todas as pessoas, alertou-os: “Eis que eu vos envio como cordeiros para o
meio dos lobos” (Mt 10,16). Essa é a condição de todo verdadeiro cristão no
mundo, desde a época de Jesus até hoje: ser um cordeiro no meio de lobos; ser
uma pessoa íntegra num ambiente corrupto; ser uma pessoa justa numa sociedade
injusta; ser uma pessoa solidária num mundo marcado pela indiferença para com o
sofrimento alheio.
Embora em alguns países, sobretudo
aqueles dominados pelo fundamentalismo islâmico, os cristãos são perseguidos e
mortos apenas por se declararem cristãos, nos países do Ocidente você não
incomoda ninguém por ser cristão(ã) – isso é uma opção individual, à qual você
tem direito – mas você incomoda quando, por ser cristão(ã), se opõe àquilo que
é injusto na sociedade. É quando você, em nome do Evangelho, precisa colocar o
dedo na ferida, dar nomes aos bois e denunciar ou questionar o que há de
injusto no ambiente em que se encontra é que passa a sentir na pele a ameaça
dos lobos com quem convive no dia a dia, inclusive se dando conta de que alguns
que você considerava cordeiros eram, na verdade, lobos em pele de cordeiro.
Sentindo-se ameaçado por pessoas que
viviam “espalhando o medo em redor” (Jr 20,10), o profeta Jeremias colocou a
sua causa nas mãos de Deus, Aquele que conhece o coração de cada homem e sabe
distinguir o justo do injusto, e proclamou a sua fé, dizendo: “(...) o Senhor
está ao meu lado como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão
vencidos” (Jr 20,11). Da mesma forma, Jesus nos convida a confiar no Pai: se
nenhum pardal, pássaro sem valor algum no mercado, cai por terra, isto é, morre
“sem o consentimento do vosso Pai”, tenham a confiança de que o Pai não cuidará
de vós, que “valeis” para Ele “mais do que muitos pardais”! (cf. Mt 10,29.31).
Existem situações reais que nos
ameaçam? Sim! Primeiro, porque a vida humana vale hoje tanto quanto os pardais,
ou seja, nada; mata-se por qualquer motivo e também sem nenhum motivo. Segundo,
porque o mundo odeia quem procura viver como Jesus viveu (cf. Jo 15,18).
Contudo, nós precisamos colocar o nosso medo em diálogo com a palavra-chave que
Jesus usou para falar da nossa confiança no cuidado que o Pai tem para conosco:
CONSENTIMENTO. O Pai conhece tudo da minha vida; sabe até quantos fios de
cabelo eu tenho na cabeça. Nada me atingirá, sem o consentimento d’Ele. Essa confiança foi expressa pelo Papa
Francisco, quando um repórter lhe perguntou a respeito da sua segurança: ele disse que não sente medo, que sabe que ninguém morre de véspera (entrevista ao Fantástico em 29/07/2013).
A palavra “consentimento” diz
claramente que a nossa vida está nas mãos do Pai, não nas mãos dos homens,
assim como a vida do cordeiro está nas mãos do seu Pastor e não nas garras dos
lobos que o rodeiam. Por isso, Jesus diz: “Não tenhais medo dos que matam o
corpo, mas não podem matar a alma!” (Mt 10,28). A questão, porém, é saber se
nós acreditamos que temos uma alma e que ela não pode ser tocada pelas mãos de
nenhum ser humano. A questão é saber se nós nos preocupamos em cuidar da nossa
alma da mesma forma como nos preocupamos em cuidar do nosso corpo. Se há alguém
que representa perigo para a nossa alma somos nós mesmos, na medida em que a
mantemos afastada de Deus. Neste sentido, vale a pena lembrar de que quem, por descuido da sua fé, não tem medo
de perder Deus, já perdeu tudo, inclusive sua alma.
Jesus termina este Evangelho nos
alertando que sempre chega o momento em que a nossa fé sai do âmbito pessoal e
é questionada pelos outros. É quando temos que “sair de cima do muro” e dizer
no quê consiste a nossa fé. “(...) todo aquele que se declarar a meu favor
diante dos homens... Aquele, porém, que me negar diante dos homens....” (Mt
10,32-33). Só consegue se declarar verdadeiro cristão e discípulo de Jesus
Cristo quem se libertou do medo de ser criticado, rejeitado, marginalizado e
mesmo perseguido pelos outros. No fundo, a verdadeira ameaça à nossa fé não vem
de fora (dos outros), mas de dentro (de nós mesmos): é quando ao invés de
sentirmos um saudável orgulho em sermos reconhecidos como “pessoas de Deus”,
sentimos vergonha em sê-lo.
A título de conclusão, recordemos as
palavras do papa Francisco aos jovens, no final da JMJ, ano passado: “Tenham a coragem de ir contra a corrente... Não tenham medo
de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo
quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que
todos sintam o calor da Sua misericórdia e do Seu amor”.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Missa Perfeita...Era exatamente o que precisava ouvir !!! O Senhor é um enviado de Deus !!!
ResponderExcluirLiberte=se do medo, o dinheiro resolve muitas situações mas nem sempre compra aquilo que constitui profundo desejo. Pode comprar por exemplo a cama, mas não o sono,; o livro, mas não a inteligência ou o saber; uma casa mas não um lar; ; o remédio mas não a saúde; a convivência mas não o amor; a diversão mas não a felicidade; o crucifixo mas não a fé, um lugar no cemitério, mas não o céu. Afaste se si o medo, vc não está abandonado como se fosse uma folha solta ao vento, Vc tem um Pai que é o seu criador. Ele o fez à sua imagem imprimindo-lhe a sua vida que é eterna, como a sua é eterna. Desde o dia em que vc começou a existir está vinculado ao seu criador por Ele assistido e guiado. Saiba que o amor de Deus por vc é infinito e não permitirá que se desgarre, se perca nem fique ao léu como se fosse abandonado. Pense e repita sempre na intimidade da sua alma que Deus te envolve em cada instante com o manto da sua proteção. A primeira e a pior de todas as fraudes é engana-se a si mesmo, portanto cuidemos de nossa alma.
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