sexta-feira, 12 de julho de 2013

DE QUEM EU PRECISO ME FAZER PRÓXIMO HOJE?

Missa do 15º. dom. comum. Palavra de Deus: Deuteronômio 30,10-14; Colossenses 1,15-20; Lucas 10,25-37.

     As pessoas que têm uma religião o fazem para se sentirem ligadas, em comunhão com Deus. De fato, a palavra “religião” significa “re-ligar” o ser humano com Deus. Quem está ligado, em comunhão com Deus, está ligado, em comunhão com Aquele que é a fonte da Vida. Porém, segundo a Escritura, a verdadeira religião não se resume numa ligação apenas entre o ser humano e Deus, mas entre o ser humano, seu semelhante e Deus. Contrariando o individualismo do mundo moderno, a Escritura afirma que quando eu decido me desligar, interromper a comunhão com o meu próximo, eu estou me desligando, interrompendo a minha comunhão com Deus.
Para Jesus, a forma como lidamos com o nosso próximo indica se nossa comunhão com Deus é verdadeira ou não. Por isso, ele nos convida a nos imaginar dentro da parábola do bom samaritano. Com qual personagem nos identificamos? Somos os assaltantes? Nos vemos no homem roubado, espancado e quase morto? Nos parecemos com o sacerdote, ou com o levita? Ou por acaso nos vemos no bom samaritano?
No caminho da vida, embora nem sempre nos demos conta disso, cruzamos com pessoas que caíram nas mãos de assaltantes: são os endividados pelos Bancos, os mal assalariados, os desempregados, os dependentes químicos etc. O sacerdote e o levita viram o homem caído e seguiram adiante, pelo outro lado. Há aqui um questionamento importante. Mesmo cruzando com pessoas feridas, necessitadas da nossa ajuda, nós temos que “seguir adiante”. Iniciamos nosso dia com tudo esquematizado. Temos uma porção de coisas a resolver. Não podemos perder tempo com as pessoas, nem mesmo com pessoas da nossa família. Porque temos que “seguir adiante”, não temos tempo de visitá-las, de ouvi-las, muito menos de cuidar delas.
Porque nós estamos sempre ocupados conosco mesmos, costumamos ou não enxergar o outro, ou enxergá-lo como um estorvo do qual precisamos nos desviar. É aqui que entra a atitude do bom samaritano. Ele “chegou perto, viu e sentiu compaixão. Aproximou-se dele...” (Lc 10,33-34). A questão é como nós enxergamos as pessoas. O samaritano não enxergou aquele homem ferido como um problema, um estorvo, mas como um ser humano que tem valor, importância, dignidade.
Para cuidar daquele homem ferido, o bom samaritano precisou perder tempo, esquecer-se de si e dos seus afazeres. O próximo é assim: alguém que me recorda que o mundo não gira em torno de mim, dos meus problemas, projetos e necessidades. O próximo é alguém que me lembra o que Deus disse pelo profeta Isaías: Se você “não se esconder daquele que é a tua carne... a cura das tuas feridas se operará rapidamente...” (Is 58,7-8). O próximo, seja ele quem for, é exatamente isso: a minha carne, alguém humano como eu, necessitado como eu, digno de respeito como eu.
Ao contar esta parábola, Jesus modificou a pergunta do mestre da Lei. A pergunta principal não é “E quem é o meu próximo?” (Lc 10,29), mas “qual dos três foi o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” (Lc 10,36). A pergunta principal é: de quem você precisa se fazer próximo(a) neste momento? Do seu companheiro de trabalho? Da sua vizinha? Do seu cônjuge? Dos seus filhos? Dos seus pais? Dos seus avós? Alguns pais acham que dinheiro substitui o amor e a presença junto aos filhos. Se fosse assim, os filhos desses pais não usariam droga e seriam educados e solidários com as outras pessoas...
O Evangelho de hoje pode ainda suscitar outros questionamentos. Como falar de “amor ao próximo” a pessoas que tem uma dificuldade enorme de se desconectar do celular, do smartphone, mas com a maior facilidade se desconectam dos que estão fisicamente próximos delas? Como uma geração que vive com fones de ouvido pode ouvir o pedido de socorro de alguém que está necessitado?
Um recado final do Evangelho: aquilo que está ferido e quase morto pode ser curado e viver, se você se fizer próximo dele, se você usar de misericórdia para com ele. Dentro de cada um de nós há reservas de vinho e de azeite. Só precisamos ter a coragem de nos aproximar das feridas do nosso próximo e derramá-los sobre elas. Como nos lembra a 1ª. leitura, este mandamento que o Senhor hoje lhe dá, de amar o próximo como a si mesmo, “não está no céu, (...) nem do outro lado do mar” (Dt 30,12-13), como se você não pudesse alcançá-lo, isto é, praticá-lo. Ele está ao teu alcance, para que possas cumpri-lo (cf. Dt 30,14).

Um alerta final: se você se encontra no outro extremo, como aqueles que se sentem consumidos e devorados pelas solicitações de tantos necessitados, lembre-se de que Jesus, embora procurado por muitos e não se desviando das pessoas, nunca se deixou devorar por elas. Neste sentido, aprenda a usar de misericórdia também para com você, de modo que o seu vinho não se transforme em vinagre e o seu azeite não se converta em ácido, por desrespeitar seus próprios limites humanos...  
                                                                                                                                         Pe. Paulo Cezar Mazzi

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