quinta-feira, 25 de julho de 2013

A ABSOLUTA NECESSIDADE DA ORAÇÃO

Missa do 17º. dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 18,20-32; Colossenses 2,12-14; Lucas 11,1-13.
           
“Rezem por mim. Rezem por mim. Necessito”. Assim pediu o Papa Francisco ao povo em Aparecida, na última quarta-feira. Assim como o Papa Francisco, nós necessitamos de oração, necessitamos não somente que os outros rezem por nós; necessitamos, sobretudo, aprofundar a nossa vida de oração. Nós necessitamos da oração porque necessitamos de Deus, e somente na oração podemos nos abrir a Deus; somente na oração podemos nos deixar amar e cuidar por Deus.
Como anda a sua vida de oração? Das 24 horas que Deus concede a você a cada dia, quanto tempo você dedica para estar em oração, na presença d’Ele? Quais as alegrias que você já experimentou na sua oração? Quais as decepções?
Nós podemos comparar a oração como um rio. Você é convidado(a) a entrar neste rio e flutuar nele, deixando-se conduzir pelo Espírito Santo até a presença de Deus. Mas, quantas vezes você entra neste rio, entra em oração, e ao invés de se deixar conduzir pelo Espírito, abraçando a vontade de Deus, você começa a nadar contra a corrente, opondo resistência ao Espírito, porque quer que prevaleça a sua vontade e não a vontade de Deus. Quando você faz isso, acaba por transformar a sua oração num tormento. Isso distancia você da oração.
O texto de Gn 18,20-32 nos coloca diante da oração de Abraão, uma oração que revela três atitudes importantes: humildade, “atrevimento” e insistência: “Estou sendo atrevido em falar ao meu Senhor” (Gn 18,27)... “Abraão tornou a insistir...” (Gn 18,30). Jesus, depois de ensinar seus discípulos a rezar, também sublinha a importância de insistir com Deus na oração. Enquanto muitas pessoas rezam até se cansar, até se decepcionar com Deus, Jesus nos diz que devemos pedir até receber, buscar até encontrar, bater até a porta se abrir (cf. Lc 11,9). Somente quando rezamos de maneira humilde, “atrevida” e insistente é que descobrimos o quanto a força da oração pode em nossa vida.
Assim se expressa o salmista, em relação à oração: “Naquele dia em que gritei, vós me escutastes e aumentastes o vigor da minha alma” (Sl 138,3). Quantas pessoas têm perdido o seu vigor e definhado na sua vida espiritual porque deixaram de gritar a Deus, deixaram de rezar? Também se expressa o salmista: “Completai em mim a obra começada... Ó Senhor... eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos!” (Sl 138,8). A oração é necessária para que Deus complete a obra que começou em você, na sua vida. Quanto menos tempo você dedica à oração, quanto menos você se coloca nas mãos de Deus por meio da oração, mais inacabado(a) você se sente.
“Senhor, ensina-nos a rezar...” (Lc 11,1). Como os discípulos, sentimos que não sabemos rezar, que há algo que precisa melhorar em nossa vida de oração. Aprender a rezar significa aprender a estar na presença de Deus de uma maneira mais profunda, mais confiante, e sentir o Seu amor por nós. A primeira palavra da oração que Jesus nos ensinou é “Pai”. Chamar a Deus de “Pai” é fazer uma declaração de fé. Nós não somos órfãos, nem estamos sozinhos neste mundo. Deus é o Pai de cada um de nós e cuida de cada um de nós! E a oração nada mais é do que confiar-se aos cuidados do Pai, deixar-se cuidar por Ele!
Jesus insiste nesta imagem de Deus como Pai, ao exemplificar que, se os pais – humanos e imperfeitos –, dão coisas boas aos filhos, muito mais “o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,13). Jesus poderia ter dito: “o Pai do Céu dará saúde, emprego, prosperidade, felicidade... aos que o pedirem!”. Mas Ele disse: “o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,13). Por que o Espírito Santo? Porque “nem só de pão vive o homem” (Mt 4,4); porque não podemos viver como pessoas carnais, mas como pessoas espirituais (cf. 1Cor 3,1; Gl 5,16-18); porque somos cidadãos do céu e devemos buscar as coisas do alto (cf. Fl 3,20; Cl 3,1); em suma, porque devemos pedir a Deus não migalhas, não bens transitórios, mas o Seu maior bem, Seu maior dom, Sua maior bênção, que é o Espírito Santo, sem O qual nada podemos.
No final desta reflexão, podemos recordar dois pensamentos sobre a oração. O primeiro é de Santo Agostinho: “Faça o que você pode e reze pelo que não pode, para que Deus permita que você o possa”. Em outras palavras, a oração mostra que é possível ao ser humano desejar o impossível e descobrir que, para Deus, nada é impossível (cf. Gn 18,14; Lc 1,37). O segundo pensamento é de Sören Kierkegaard: “Orar não consiste em ouvir-se falar; orar consiste em ficar em silêncio, estar e esperar em silêncio, até ouvir Deus”. Quanto menos palavras na oração, melhor, pois o Pai já sabe das nossas necessidades (cf. Mt 6,7-8). Quanto mais silêncio, quanto mais concentrados em Deus e não em nós, mais saímos transformados da oração... 
                                               Pe. Paulo Cezar Mazzi



sexta-feira, 19 de julho de 2013

ACOLHER AQUELE CUJO AMOR PODE NOS TRANSFORMAR

Missa do 16º. dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 18,1-10a.; Colossenses 1,24-28; Lucas 10,38-42.

    Você gostaria que Deus estivesse mais presente na sua vida? Você gostaria que Ele abençoasse os seus projetos, sua vida afetiva, e tornasse mais fecundo o seu trabalho? Você gostaria que Deus livrasse você dos seus inimigos e lhe protegesse do mal? Deus pode fazer tudo isso e muito mais, mas, para isso, Ele precisa ser acolhido por você, como foi acolhido por Abraão (1ª. leitura), e também como Jesus foi acolhido por Maria (Evangelho).
      Abraão acolheu Deus sem saber, e O acolheu com generosidade e gratuidade, sem esperar nenhuma recompensa pelo que estava fazendo. Acolhendo aqueles três homens, Abraão, sem o saber, deixou Deus entrar num espaço maior e mais profundo da sua vida, e ali, naquele espaço, recebeu a bênção que tanto esperava: a cura da esterilidade de Sara e a promessa do nascimento de um filho.
     Este texto de Gênesis nos coloca algumas perguntas: Você acolhe Deus no seu dia a dia? De que maneira? Até onde você permite que Ele entre na sua vida? Você é uma pessoa mesquinha ou generosa no tempo que permite a Deus entrar no seu dia a dia, por meio da oração?
       Da mesma forma como Abraão acolheu a visita de Deus, Marta e Maria acolheram Jesus em sua casa, com a diferença que Marta continuou “ocupada com muitos afazeres”, enquanto que “Maria sentou-se aos pés do Senhor, e escutava sua palavra” (Lc 10,39). Tanto a visita de Deus a Abraão, como a visita de Jesus a Marta e Maria não se deram no Templo, durante uma celebração, mas no cotidiano de suas vidas. Para nós, que gostaríamos de ter uma experiência mais profunda de Deus e de perceber Sua presença de forma mais significativa em nossa vida, a Palavra está nos dizendo que o nosso cotidiano é o lugar onde Deus nos visita e se manifesta de muitas formas, mas talvez não esteja sendo percebido por causa da nossa constante agitação e dispersão.
       “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária” (Lc 10,41-42). Para que e para quem andamos preocupados e agitados? No seu dia a dia, você se ocupa com muitas coisas, mas será que se ocupa com o mais necessário? A questão não é o que você tem a fazer todos os dias, mas como você o faz: se confiando em Deus ou se contando apenas consigo mesmo(a). Até mesmo se você trabalha para Deus, é preciso se lembrar de que o Reino é dom (depende de Deus) e tarefa (depende de você), não só uma coisa, não só outra.
       Pessoas do tipo “Marta” vivem sempre ocupadas porque, dessa forma, se sentem importantes e até insubstituíveis. Cedo ou tarde, elas se esgotam e adoecem. Na verdade, sempre que agimos contra aquilo que a nossa alma precisa, adoecemos. Nossas doenças são o sinal de que estamos desrespeitando aquilo que a nossa alma sabe ser o mais necessário para nós.
      “Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada” (Lc 10,42). Assim como Marta, Maria também tinha suas ocupações, mas ela “escolheu” naquele momento sentar-se aos pés de Jesus e escutar a sua palavra. Apesar de tantas ocupações, de tantas solicitações, você pode e deve “escolher”; você deve saber o que priorizar, perceber o que é mais necessário a ser feito.  
     O dia de cada um de nós começa e termina cheio, mas a atitude de Maria nos diz que podemos viver o nosso dia de uma outra maneira. Antes de olhar para as tarefas, para os problemas daquele dia, olhe para o Senhor. Antes de se encontrar com qualquer outra pessoa, encontre-se com o Senhor. O seu primeiro contato não deve ser nem mesmo com os que estão em sua casa, mas com o Senhor, que quer ser o hóspede da sua alma. Antes de você sair de casa e começar a ouvir reclamações, pedidos, ou seja lá o que for, ouça o Senhor. Enfim, como você espera que o seu dia seja bem sucedido, se você começou a vivê-lo contando apenas com sua própria força? 
      Todos os dias o Senhor visita a humanidade, e procura uma casa onde entrar, um coração onde ficar, oferecendo o Seu “incansável amor, que procura a quem transformar e transforma a quem encontrar” (Walmir Alencar)... 

                                 Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 12 de julho de 2013

DE QUEM EU PRECISO ME FAZER PRÓXIMO HOJE?

Missa do 15º. dom. comum. Palavra de Deus: Deuteronômio 30,10-14; Colossenses 1,15-20; Lucas 10,25-37.

     As pessoas que têm uma religião o fazem para se sentirem ligadas, em comunhão com Deus. De fato, a palavra “religião” significa “re-ligar” o ser humano com Deus. Quem está ligado, em comunhão com Deus, está ligado, em comunhão com Aquele que é a fonte da Vida. Porém, segundo a Escritura, a verdadeira religião não se resume numa ligação apenas entre o ser humano e Deus, mas entre o ser humano, seu semelhante e Deus. Contrariando o individualismo do mundo moderno, a Escritura afirma que quando eu decido me desligar, interromper a comunhão com o meu próximo, eu estou me desligando, interrompendo a minha comunhão com Deus.
Para Jesus, a forma como lidamos com o nosso próximo indica se nossa comunhão com Deus é verdadeira ou não. Por isso, ele nos convida a nos imaginar dentro da parábola do bom samaritano. Com qual personagem nos identificamos? Somos os assaltantes? Nos vemos no homem roubado, espancado e quase morto? Nos parecemos com o sacerdote, ou com o levita? Ou por acaso nos vemos no bom samaritano?
No caminho da vida, embora nem sempre nos demos conta disso, cruzamos com pessoas que caíram nas mãos de assaltantes: são os endividados pelos Bancos, os mal assalariados, os desempregados, os dependentes químicos etc. O sacerdote e o levita viram o homem caído e seguiram adiante, pelo outro lado. Há aqui um questionamento importante. Mesmo cruzando com pessoas feridas, necessitadas da nossa ajuda, nós temos que “seguir adiante”. Iniciamos nosso dia com tudo esquematizado. Temos uma porção de coisas a resolver. Não podemos perder tempo com as pessoas, nem mesmo com pessoas da nossa família. Porque temos que “seguir adiante”, não temos tempo de visitá-las, de ouvi-las, muito menos de cuidar delas.
Porque nós estamos sempre ocupados conosco mesmos, costumamos ou não enxergar o outro, ou enxergá-lo como um estorvo do qual precisamos nos desviar. É aqui que entra a atitude do bom samaritano. Ele “chegou perto, viu e sentiu compaixão. Aproximou-se dele...” (Lc 10,33-34). A questão é como nós enxergamos as pessoas. O samaritano não enxergou aquele homem ferido como um problema, um estorvo, mas como um ser humano que tem valor, importância, dignidade.
Para cuidar daquele homem ferido, o bom samaritano precisou perder tempo, esquecer-se de si e dos seus afazeres. O próximo é assim: alguém que me recorda que o mundo não gira em torno de mim, dos meus problemas, projetos e necessidades. O próximo é alguém que me lembra o que Deus disse pelo profeta Isaías: Se você “não se esconder daquele que é a tua carne... a cura das tuas feridas se operará rapidamente...” (Is 58,7-8). O próximo, seja ele quem for, é exatamente isso: a minha carne, alguém humano como eu, necessitado como eu, digno de respeito como eu.
Ao contar esta parábola, Jesus modificou a pergunta do mestre da Lei. A pergunta principal não é “E quem é o meu próximo?” (Lc 10,29), mas “qual dos três foi o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” (Lc 10,36). A pergunta principal é: de quem você precisa se fazer próximo(a) neste momento? Do seu companheiro de trabalho? Da sua vizinha? Do seu cônjuge? Dos seus filhos? Dos seus pais? Dos seus avós? Alguns pais acham que dinheiro substitui o amor e a presença junto aos filhos. Se fosse assim, os filhos desses pais não usariam droga e seriam educados e solidários com as outras pessoas...
O Evangelho de hoje pode ainda suscitar outros questionamentos. Como falar de “amor ao próximo” a pessoas que tem uma dificuldade enorme de se desconectar do celular, do smartphone, mas com a maior facilidade se desconectam dos que estão fisicamente próximos delas? Como uma geração que vive com fones de ouvido pode ouvir o pedido de socorro de alguém que está necessitado?
Um recado final do Evangelho: aquilo que está ferido e quase morto pode ser curado e viver, se você se fizer próximo dele, se você usar de misericórdia para com ele. Dentro de cada um de nós há reservas de vinho e de azeite. Só precisamos ter a coragem de nos aproximar das feridas do nosso próximo e derramá-los sobre elas. Como nos lembra a 1ª. leitura, este mandamento que o Senhor hoje lhe dá, de amar o próximo como a si mesmo, “não está no céu, (...) nem do outro lado do mar” (Dt 30,12-13), como se você não pudesse alcançá-lo, isto é, praticá-lo. Ele está ao teu alcance, para que possas cumpri-lo (cf. Dt 30,14).

Um alerta final: se você se encontra no outro extremo, como aqueles que se sentem consumidos e devorados pelas solicitações de tantos necessitados, lembre-se de que Jesus, embora procurado por muitos e não se desviando das pessoas, nunca se deixou devorar por elas. Neste sentido, aprenda a usar de misericórdia também para com você, de modo que o seu vinho não se transforme em vinagre e o seu azeite não se converta em ácido, por desrespeitar seus próprios limites humanos...  
                                                                                                                                         Pe. Paulo Cezar Mazzi