quinta-feira, 13 de setembro de 2012

No peito, uma cruz; no coração, o que disse Jesus


Missa do 24º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 50,5-9a.; Tiago 2,14-18; Marcos 8,27-35.

Toda pessoa que tem uma religião ou segue uma igreja busca nela respostas para a sua vida. E quando determinada religião/igreja deixa de responder às suas perguntas, as pessoas vão em busca de outros lugares, porque elas querem respostas. Todos nós precisamos de respostas, isto é, precisamos da Verdade que nos ajude a interpretar corretamente a nossa vida.
Jesus nos recorda que a fé é uma resposta pessoal a uma pergunta: “Quem eu sou para você?” (cf. Mc 8,29). Essa pergunta poderia se desdobrar em outras: Que lugar eu ocupo em sua vida? O que você espera de mim? Que tipo de respostas você tem buscado para a sua vida?
Pedro foi o único dos discípulos que teve a coragem de dizer o que pensava a respeito de Jesus: “Tu és o Messias” (Mc 8,29). Messias significa o Ungido do Senhor. Na visão de Pedro, Deus ungiu Jesus para ser uma pessoa forte, vitoriosa, uma pessoa capaz de vencer todas as dificuldades e superar todos os problemas. De repente, Jesus diz aos discípulos que ele, o Messias, o Ungido do Senhor, deveria sofrer muito, ser rejeitado; devia ser morto e ressuscitar depois de três dias. “Ele dizia isto abertamente” (Mc 8,32).
Aqui se revela uma diferença fundamental entre nós e Jesus. Nós fazemos de tudo para cancelar da vida – como se isso fosse realmente possível – as dificuldades, os problemas e os sofrimentos. Jesus acolhe a vida como ela é. Ele a enfrenta de cara limpa, conscientemente, de coração aberto. Ele vive a vida por inteiro, e não somente naquilo que ela tem de agradável e prazeroso.
Pedro não aceitou a maneira como Jesus entendia a vida, e se achou no direito de repreendê-lo, mas foi repreendido pelo próprio Jesus: “Vai para longe de mim, satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens” (Mc 8,33). Sem ter consciência disso, Pedro estava assumindo diante de Jesus o mesmo papel do tentador: propor uma  vida sem problemas, sem dificuldades, sem sofrimento, uma vida feita apenas de glória, de sucesso e de vitória. Para Jesus, essa maneira de ver a vida não vem de Deus, mas dos homens.
Coloque-se diante dessa palavra: “Tu não pensas como Deus, e sim como os homens” (Mc 8,33). Quando você interpreta sua vida a partir de Deus, sua atitude diante da dor ou da dificuldade não é de desespero, nem de revolta, mas de uma pessoa que sabe que se a dor ou a dificuldade está ali é para ser enfrentada. Mas quando você interpreta sua vida a partir dos homens, qualquer dor, qualquer dificuldade tem o poder de derrubar você, de amargar seu coração e de tornar você uma pessoa revoltada, porque você acha que a vida não deveria ter espaço para essas coisas.
            Jesus quis que não somente Pedro, não somente os discípulos, mas toda a multidão entendesse uma coisa: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mc 8,34). Perceba o choque entre o evangelho de Jesus e a maneira como o mundo vê a vida: para o mundo, a vida deve girar em torno de você, do seu ego; para Jesus, a vida tem seu centro no mistério de Deus, e se você quiser que a sua vida tenha sentido, vai precisar renunciar a si mesmo, parar de girar em torno de si e abrir-se para o mistério de Deus, mistério que comporta também a experiência da cruz.
            Como você entende a sua experiência de cruz? Nem todo sofrimento, nem toda dificuldade, nem todo problema é sinônimo de cruz. Existem sofrimentos que nós mesmos produzimos com a nossa maneira de ver a vida a partir dos homens e não a partir de Deus. Esse tipo de sofrimento não tem nada a ver com a cruz. Na visão de Jesus, tomar a cruz significa aceitar o sofrimento que chega em sua vida como consequência da sua fidelidade a Deus, como preço da sua seriedade, da sua coerência, do seu propósito de viver a sua vida segundo o coração de Deus e não segundo o coração dos homens.  
            Portanto, se você está vivenciando uma experiência de cruz, inspire-se nas palavras do profeta Isaías: “O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás (diante da minha experiência de cruz)... Não desviei o rosto (das consequências da minha cruz)... Mas o Senhor Deus é meu auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo...” (Is 50,5.6.7). Se a cruz atravessa o seu caminho como consequência de uma vida vivida segundo Deus, confie, pois ela vai gerar um fruto de redenção. A cruz nunca será um fim em si mesmo, mas uma porta estreita que abre a sua vida para a ressurreição, para a vida segundo Deus, ainda que isso seja experimentado por você somente depois de três dias... 
                                                                                                                  Pe. Paulo Cezar Mazzi 

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