Missa do
25º. dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 2,12.17-20; Tiago 3,16 – 4,3;
Marcos 9,30-37.
A vida costuma nos
ensinar muitas coisas, mas nós nem sempre estamos dispostos a aprender. Existem
ensinamentos que são difíceis de ser assimilados porque contrariam os nossos
interesses e exigem de nós mudança de comportamento. Em cada Evangelho que
ouvimos Jesus procura nos ensinar como discípulos, mas seu ensinamento às vezes
encontra muita resistência em nosso coração porque exige de nós conversão,
mudança de atitude, abandono de falsas seguranças, confronto com a verdade da
cruz.
Que tipo de
resistência oferecemos ao que Jesus procura nos ensinar? Primeiro, resistimos a
compreender (insistimos em não entender) o que ele diz; depois, não perguntamos
nada, para ver se o assunto morre por ali mesmo; por fim, começamos a falar de
algo que vai numa direção contrária ao que Jesus quer nos ensinar. Exemplo
concreto: quando, em nossa oração pessoal, o Espírito de Deus faz algum apelo
ao nosso coração, o nosso ego geralmente reage, saindo imediatamente em defesa
dos seus interesses e desviando nossos pensamentos e sentimentos para outras
coisas.
Para se defenderem do
ensinamento de Jesus, que os colocava em confronto com a cruz, os discípulos
começaram a ocupar o coração com uma outra questão: ‘quem de nós é o maior?’ O
que está por trás da preocupação em saber quem é o maior? Por trás dela, está o
sentimento de inferioridade que se esconde dentro de cada um de nós. Quanto mais
uma pessoa se sente inferior, mais ela precisa compensar tal sentimento
construindo, perante os outros, a imagem de uma pessoa grande, importante.
Seria natural que a
sociedade encontrasse em nós, discípulos de Jesus, a preocupação em sermos o
maior quanto ao serviço, ao despojamento, à dedicação, à humildade, à presença
junto aos sofredores etc. Mas o que temos mostrado à sociedade é a imagem de
pessoas fascinadas pelo poder: que o nosso carro, a nossa casa, a nossa
vestimenta, o nosso perfume e o cargo que ocupamos nos destaque dos demais e
deixe bem claro para eles e para quem quiser ver ‘quem é o maior’! Não é de
admirar que muitos de nós sejamos cada vez mais vistos pela sociedade atual
como pessoas desacreditadas e desautorizadas a falar do Evangelho, pois nossas
atitudes revelam que os valores de Jesus não são os nossos.
De onde vem a
preocupação em saber quem é o maior? Do nosso sentimento inconfesso de
inferioridade, compensado em atitudes artificiais de superioridade. De onde vem
o distanciamento e o descuido de boa parte da nossa Igreja em relação aos
pequenos? Da preocupação de muitos Ministros dessa mesma Igreja em encontrarem
seu lugar debaixo dos holofotes de uma sociedade da aparência onde eles sintam
que também podem brilhar e ser reconhecidos como alguém que tem importância. De
onde vêm, pergunta São Tiago, as brigas, a inveja, a cobiça, o carreirismo e
tantas outras atitudes que nos tiram a paz? Tudo isso vem das paixões e
conflitos que estão dentro de nós (cf. Tg 4,1). Dentro de nós há um conflito
entre a voz do Espírito e a voz do nosso ego, entre a cruz de Cristo e a glória
do mundo, entre os apelos do Evangelho e as nossas justificativas (sempre
infundadas) em não colocá-lo em prática. Quando nos dermos ao trabalho de
enfrentar esse conflito e de darmos respostas mais maduras ao nosso sentimento
de inferioridade, deixaremos de nos preocupar em ser o maior ou de estar entre
os maiores. Teremos, então, recuperado a nossa credibilidade perante os homens
e seremos novamente autorizados por Deus a proclamar o Evangelho de Seu Filho a
esses mesmos homens.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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