Missa
do 17º. dom. comum. Palavra de Deus: 2Reis 4,42-44; Efésios 4,1-6; João 6,1-15.
Em nossa matemática, a conta mais
importante é a da multiplicação. Queremos multiplicar nossos bens de consumo.
Para isso, multiplicamos nossas atividades. Como consequência, multiplicamos
nossas preocupações. E o resultado final dessa multiplicação é uma vida cheia
de coisas, cheia de problemas, e vazia de sentido. Mas o evangelho que acabamos
de ouvir nos revela que na matemática de Deus a conta mais importante é a da divisão
ou da distribuição. Para dividir ou distribuir, você precisa primeiro
reconhecer aquilo que já tem consigo.
Ao ver toda aquela multidão vindo ao seu
encontro Jesus provocou seus discípulos, mencionando o problema da fome. Há
fome à nossa volta, não só fome de pão, mas fome de justiça, de diálogo, de
acolhida; fome de fidelidade, de honestidade, de retidão; fome de
solidariedade, de gratuidade, de amor. Qual tem sido o seu envolvimento com a
fome à sua volta?
A provocação de Jesus fez com que André
reconhecesse que havia ali “um menino com cinco pães de cevada e dois peixes.
Mas o que é isso para tanta gente?” (Jo 6,9), perguntou André. Quando estamos
diante de problemas, nós temos a mania de desconsiderar os recursos que já
estão em nós para resolver esses mesmos problemas. Preferimos nos revoltar
contra Deus porque Ele só nos deu cinco pães e dois peixes. Outras vezes,
usamos a desculpa dos cinco pães e dois
peixes para não ajudar, para justificar a nossa omissão diante das
necessidades à nossa volta: “Se eu tivesse mais recursos, se eu tivesse mais
tempo, se eu tivesse condições, ajudaria...”.
O verdadeiro motivo que impede você de
partilhar seus cinco pães e seus dois peixes é o seu egoísmo, que faz com
que você se comporte como um consumidor
de bens, quando você poderia assumir a postura de um construtor do bem. A presença da nossa Igreja junto aos pobres é,
via de regra, uma presença fraca, porque muitos de nós, católicos, deixamos de
ser construtores do bem para vivermos como consumidores de bens, materiais e
também espirituais.
Aquele menino do evangelho agiu como um
construtor do bem. Ele abriu mão do seu
lanche para entregá-lo às mãos de Jesus. E “Jesus tomou os pães, deu graças e
distribuiu-os... tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes” (Jo 6,11).
“Dar graças” significa reconhecer os recursos que Deus colocou em você para
superar os problemas, não somente seus, mas do mundo à sua volta. “Distribuir”
significa se lembrar de que aquilo que você retém consigo estraga, apodrece,
deixa de ser útil tanto para você quanto para os outros.
Depois de haver saciado toda aquela
multidão, Jesus recomendou aos discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram,
para que nada se perca” (Jo 6,12). Nós não gostamos de “pedaços”; nós queremos
“inteiro”. Quantas vezes jogamos fora as coisas que Deus nos ofereceu porque
elas vieram a nós em forma de “pedaços”? Se no final de cada dia nós
recolhêssemos os “pedaços” daquilo que vivemos, dormiríamos felizes e
agradecidos porque pudemos perceber ao longo do nosso dia os fragmentos da
bondade, do amor e da providência de Deus para conosco...
“(...) quando notou que estavam
querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para
o monte” (Jo 6,15). Assim termina o evangelho de hoje, nos lembrando que todas
as vezes que tentamos eleger Deus como o Solucionador Mágico dos nossos
problemas, Ele se retira e nos deixa falando sozinhos. Sempre que você quer
preservar seus cinco pães e seus dois peixes, insistindo em passar pela
humanidade como consumidor de bens e não como construtor do bem, Deus se
retira. Sempre que você entra em oração pensando que Deus está ali para tornar
tudo fácil e para satisfazer plenamente os seus desejos, sem que você não
coloque nada da sua parte, Ele se retira. Portanto, se você quer que Ele fique,
respeite-O como Deus e não despeje sobre as costas d’Ele responsabilidades que
são suas.
Pe. Paulo Cezar Mazzi