Missa
do 16º. dom. comum. Palavra de Deus: Jeremias 23,1-6; Efésios 2,13-18; Marcos
6,30-34.
Jesus,
por meio de seu corpo pregado na cruz, destruiu o muro de separação, a
inimizade. Este é o anúncio que Paulo nos faz de Jesus na sua carta aos
Efésios. Havia um muro que separava a humanidade de Deus e separava também as
pessoas umas das outras. Jesus derrubou este muro, para estabelecer a paz, a
comunhão de vida entre as pessoas e a comunhão de vida entre o ser humano e
Deus. A imagem de Jesus na cruz é a imagem de uma ponte que liga Deus com o ser
humano e este com o seu próprio semelhante.
Como cristãos, nós somos chamados a
derrubar muros e a construir pontes em nossa sociedade. Mas, para isso,
precisamos primeiro derrubar os muros que foram ou estão sendo construídos
dentro de nós. Por que construímos muros? Para nos defender: nos defendemos dos
nossos próprios sentimentos; nos defendemos de Deus, cuja Palavra sempre nos
questiona; nos defendemos das pessoas, do confronto com elas; nos defendemos de
um mundo cada vez mais violento e ameaçador.
O muro que precisa ser derrubado dentro
de nós se chama indiferença. Nós
usamos a indiferença como uma estratégia para nos defender, para não nos deixar
afetar pelo sofrimento dos outros, o contrário do que fez Jesus, quando “viu
uma numerosa multidão e teve compaixão” (Mc 6,34). Compaixão significa deixar-se afetar pela dor do outro.
Compaixão é ponte que liga você às
pessoas; é atitude que te humaniza. Indiferença é muro que separa você das pessoas; é atitude que te desumaniza.
Quando permitimos que a indiferença comece a morar dentro de
nós, deixamos de cuidar, como Deus
nos revela na sua Palavra: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se
o rebanho... Vós dispersastes o meu rebanho, e o afugentastes e não cuidastes
dele” (Jr 23,1-2). Deus não dirige esta Palavra somente aos líderes políticos e
religiosos do mundo de hoje, mas a cada um de nós, no que diz respeito aos
nossos relacionamentos. De que maneira eu tenho deixado perder, dispersado,
afugentado, não cuidado do meu relacionamento com pessoas junto das quais a
vida me colocou para ser uma presença de cuidado, para construir uma ponte e
não um muro?
É
verdade que ser ponte é desgastante. Jesus se preocupa em que os apóstolos não
cuidem apenas dos outros, mas tenham tempo e espaço para cuidar de si mesmos.
Por isso os convida a irem sozinhos para um lugar deserto, a fim de descansar.
A indiferença para com as nossas próprias necessidades é tão nociva quanto a
indiferença para com as necessidades dos outros. Jesus nos ensina a equilibrar
trabalho e descanso, cuidado com os outros e cuidado consigo mesmo, não caindo
na armadilha de sermos consumidos pelas atividades, de sermos devorados pelas
necessidades das pessoas.
Há um desequilíbrio em nossas pastorais:
poucas pessoas fazendo o que podem para cuidar do rebanho de Deus enquanto
muitas outras cuidam apenas de si mesmas e dos seus interesses mais imediatos.
A Psicologia ensina que por trás de toda
pessoa sobrecarregada existe uma outra (ou várias) folgada(s). É assim numa
casa; é assim num ambiente de trabalho; é assim numa comunidade. Jesus nos
convida a assumirmos o cuidado uns pelos outros, a assumirmos a nossa parcela
de responsabilidade para que ninguém fique sobrecarregado perto de nós, a
sermos ponte de compaixão e não muro de indiferença para com aquilo que
acontece à nossa volta.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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