quinta-feira, 19 de julho de 2012

O MURO E A PONTE


Missa do 16º. dom. comum. Palavra de Deus: Jeremias 23,1-6; Efésios 2,13-18; Marcos 6,30-34.

        Jesus, por meio de seu corpo pregado na cruz, destruiu o muro de separação, a inimizade. Este é o anúncio que Paulo nos faz de Jesus na sua carta aos Efésios. Havia um muro que separava a humanidade de Deus e separava também as pessoas umas das outras. Jesus derrubou este muro, para estabelecer a paz, a comunhão de vida entre as pessoas e a comunhão de vida entre o ser humano e Deus. A imagem de Jesus na cruz é a imagem de uma ponte que liga Deus com o ser humano e este com o seu próprio semelhante.
Como cristãos, nós somos chamados a derrubar muros e a construir pontes em nossa sociedade. Mas, para isso, precisamos primeiro derrubar os muros que foram ou estão sendo construídos dentro de nós. Por que construímos muros? Para nos defender: nos defendemos dos nossos próprios sentimentos; nos defendemos de Deus, cuja Palavra sempre nos questiona; nos defendemos das pessoas, do confronto com elas; nos defendemos de um mundo cada vez mais violento e ameaçador.
O muro que precisa ser derrubado dentro de nós se chama indiferença. Nós usamos a indiferença como uma estratégia para nos defender, para não nos deixar afetar pelo sofrimento dos outros, o contrário do que fez Jesus, quando “viu uma numerosa multidão e teve compaixão” (Mc 6,34). Compaixão significa deixar-se afetar pela dor do outro. Compaixão é ponte que liga você às pessoas; é atitude que te humaniza. Indiferença é muro que separa você das pessoas; é atitude que te desumaniza.
Quando permitimos que a indiferença comece a morar dentro de nós, deixamos de cuidar, como Deus nos revela na sua Palavra: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho... Vós dispersastes o meu rebanho, e o afugentastes e não cuidastes dele” (Jr 23,1-2). Deus não dirige esta Palavra somente aos líderes políticos e religiosos do mundo de hoje, mas a cada um de nós, no que diz respeito aos nossos relacionamentos. De que maneira eu tenho deixado perder, dispersado, afugentado, não cuidado do meu relacionamento com pessoas junto das quais a vida me colocou para ser uma presença de cuidado, para construir uma ponte e não um muro?
            É verdade que ser ponte é desgastante. Jesus se preocupa em que os apóstolos não cuidem apenas dos outros, mas tenham tempo e espaço para cuidar de si mesmos. Por isso os convida a irem sozinhos para um lugar deserto, a fim de descansar. A indiferença para com as nossas próprias necessidades é tão nociva quanto a indiferença para com as necessidades dos outros. Jesus nos ensina a equilibrar trabalho e descanso, cuidado com os outros e cuidado consigo mesmo, não caindo na armadilha de sermos consumidos pelas atividades, de sermos devorados pelas necessidades das pessoas.
Há um desequilíbrio em nossas pastorais: poucas pessoas fazendo o que podem para cuidar do rebanho de Deus enquanto muitas outras cuidam apenas de si mesmas e dos seus interesses mais imediatos. A Psicologia ensina que por trás de toda pessoa sobrecarregada existe uma outra (ou várias) folgada(s). É assim numa casa; é assim num ambiente de trabalho; é assim numa comunidade. Jesus nos convida a assumirmos o cuidado uns pelos outros, a assumirmos a nossa parcela de responsabilidade para que ninguém fique sobrecarregado perto de nós, a sermos ponte de compaixão e não muro de indiferença para com aquilo que acontece à nossa volta. 
                              Pe. Paulo Cezar Mazzi
            

Nenhum comentário:

Postar um comentário