Missa do 14º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 66,10-14; Gálatas 6,14-18; Lucas 10,1-12.17-20
“O Senhor escolheu outros setenta e
dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar
aonde ele próprio devia ir” (Lc 10,1). O envio dos 72 discípulos fala da missão
de cada um de nós. No dia a dia, a vida sempre nos coloca junto de pessoas.
Embora isso pareça casual, não é; nós estamos junto dessas pessoas para ser ali
a presença do próprio Jesus! Se há muitos que não sentem a presença de Deus é
porque grande parte dos cristãos não encontra mais tempo, nem motivação, para
se colocar junto das pessoas que precisam de consolação.
Através do profeta Isaías, Deus
prometeu fazer chegar ao povo de Israel a Sua consolação. Essa consolação é
comparada ao leite que sai do seio da mãe que amamenta o filho; ela também é
expressa na atitude de tomar a criança no colo, sentá-la sobre os joelhos e acariciá-la.
Em outras palavras, para consolar, é preciso se fazer presente; é preciso
esquecer-se por um tempo para dedicar tempo ao outro; é preciso deixar de lado
o celular para se colocar junto da pessoa que precisa ser consolada. Na
verdade, quando saímos de nós mesmos e dedicamos tempo para estar junto de uma
pessoa que se encontra desolada, não é somente ela que recebe consolação; nós
saímos da presença dela consolados também, pois “há mais alegria em dar do que
em receber” (At 20,35).
Ao enviar os 72 discípulos para
junto das pessoas que deveriam receber a alegria do Evangelho, Jesus disse: “A
messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da
messe que mande trabalhadores para a colheita” (Lc 10,2). Sempre foram poucas
as pessoas que se dispõem a ajudar, mas essa falta de “consoladores”, de
cristãos missionários, se agravou muito hoje, não só por causa do
individualismo, mas também do comodismo e da indústria do entretenimento: ficar
em casa assistindo séries ou jogando fecha as pessoas em si mesmas e as mantém
afastadas daqueles que necessitam de uma presença consoladora.
“Em qualquer casa em que entrardes,
dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’” (Lc 10,5). Na maior parte das casas
não existe paz, mas conflito; quando não, solidão, tristeza e sensação de
desamparo. Por outro lado, o acesso às casas das pessoas está cada vez mais
restrito, por questão de segurança. Jesus nos provoca a romper com o fechamento
e o distanciamento, e a criar formas de nos aproximar das pessoas. Se “Cristo é
a nossa paz” (Ef 2,14) é porque Ele derrubou o muro da separação entre as
pessoas e construiu a ponte da reaproximação. Sempre que nos esforçamos em ser
ponte, nós geramos paz no coração das pessoas. Também a oração de São Francisco
nos incentiva a sermos instrumentos da paz: “Onde há ódio, que eu leve o amor;
onde há tristeza, que eu leve alegria; onde há desespero, que eu leve a
esperança...”.
“Os setenta e dois voltaram muito
contentes, dizendo: ‘Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu
nome’” (Lc 10,17). Sempre que vivemos com fidelidade a missão que somos, nos
colocando junto das pessoas que precisam da consolação que vem de Cristo, os
demônios vão embora: o demônio da tristeza, da solidão, do sentimento de nada
valer; o demônio que divide, separa e alimenta conflito; o demônio da falta de
diálogo, de perdão e de reconciliação... Falta-nos confiar nas palavras de
Jesus: “Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda
a força do inimigo” (Lc 10,19). O veneno do mal não tem poder sobre quem vive
na obediência a Jesus e ao seu Evangelho. O óleo da unção do Espírito Santo não
permite que o maligno nos agarre e nos mantenha presos em suas mãos.
Enfim, que o envio dos 72 discípulos nos
recorde mais uma vez o convite do Papa Francisco a toda a nossa Igreja: “Saiamos,
saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Se alguma coisa nos deve
santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos
nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo,
sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida”
(Papa Francisco, A alegria do Evangelho, n.49).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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