Missa do 5º. Dom. Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 14,21b-27; Apocalipse 21,1-5a; João 13,31-33a.34-35.
“Nós sabemos que passamos da morte
para a vida, porque amamos os irmãos. Aquele que não ama, permanece na morte”
(1Jo 3,14). Estamos no 5º domingo da Páscoa. Só pode experimentar Páscoa, isto
é, só pode fazer a passagem da morte para a vida quem decide amar. Sim, amar é uma
decisão. Em um mundo onde o mal cresce sempre mais, onde as pessoas se tornam cada
vez mais egoístas, individualistas, interesseiras, agressivas e intolerantes,
só é possível amar tomando a decisão de perseverar no amor até o fim,
recordando o que Jesus disse: “Devido ao crescimento da maldade, o amor de
muitos esfriará. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt
24,12).
Muitos deixaram de perseverar no
amor, por terem sido feridos e traídos. Como não receberam mais amor dos
outros, decidiram também deixar de amar, e por deixarem de amar, se permitiram
morrer por dentro. “Aquele que não ama, permanece na morte”. Decidir não mais
amar é decidir enterrar-se vivo; é decidir espalhar o veneno da raiva, da mágoa
e do ressentimento sobre todas as plantas do jardim da sua alma, até que ele se
torne um lugar deserto, seco, morto.
“Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos
uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos
outros” (Jo 13,34). Antes de Jesus, já existia o mandamento do amor: amar a
Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo. O que existe de
novidade no mandamento de Jesus é amar como Ele nos amou: “Tendo amado os seus
que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Amar até o fim é decidir
continuar a amar depois que surgiu uma doença que impossibilitou a vida sexual
no casamento; depois que a novidade deu lugar à rotina; depois que o corpo
jovem e cheio de vigor entrou na fase do declínio e do envelhecimento; depois
que a convivência com os defeitos da outra pessoa desmanchou a imagem
idealizada que tínhamos dela.
O grande teste pelo qual o amor
passa é a dor. Amar é expor-se à dor, é correr o risco de ferir-se, de não
receber na mesma medida em que se dá. Amar como Jesus nos amou é aceitar ser
crucificado para salvar aqueles que nós amamos. Em outras palavras, só é
verdadeiro o amor que aceita sacrificar-se por aquele que ama. É aqui que a
maioria fracassa. Nós não admitimos morrer em nosso egoísmo para que o amor não
morra em nosso relacionamento com determinada pessoa. Nós não admitimos que, de
fato, "é preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino
de Deus" (At 14,22). Queremos experimentar o amor de Deus por nós,
manifestado na cruz de seu Filho, sem com que tenhamos que ser crucificados em
nosso egoísmo, em nossos caprichos, em nossa exigência de uma vida sem dor e de
um amor que não precise sacrificar-se, que não precise sofrer para continuar a
amar.
Essa é a grande diferença entre nós
e Jesus. Enquanto Jesus decide nos amar até o fim, aceitando morrer por nós
numa cruz, nós tomamos a decisão de deixar de amar exatamente porque a cruz
entrou em nossa vida. Queremos entrar no Reino de Deus desde que isso não nos
custe sofrimento algum. Queremos colher flores no jardim da nossa existência
sem que a semente que somos precise ser enterrada e morrer, para somente assim
germinar e florescer. Nosso amor morre de fome, de desnutrição, porque somos
grãos de trigo que não aceitam ser triturados para se tornarem a farinha da
qual nascerá o pão que alimentará o amor que tanto desejamos que esteja
presente em nossa vida.
Jesus afirmou: “Nisto todos
conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo
13,35). As pessoas que não frequentam nossa Igreja, ou que não são cristãs, ou
que não creem em Deus, veem amor em nós e entre nós? As pessoas que chegam em
nossas celebrações são acolhidas com amor ou tratadas com indiferença? A forma
como tratamos as pessoas no ambiente de trabalho e no dia a dia manifesta o
amor de Deus por todo ser humano? Nós amamos somente aqueles que o mundo “ama”:
os belos, os fortes, os “importantes”, ou escolhemos amar preferencialmente
aqueles que são ignorados e tratados com indiferença pelo mundo: os doentes, os
fracos, os idosos, os “sem importância”, os deficientes, os esquecidos?
São João da Cruz dizia que “no
entardecer da vida, seremos julgados a respeito do amor”. Quando a nossa vida
terrena terminar e formos colocados diante do tribunal de Cristo (cf. 2Cor
5,10), Ele nos perguntará se nós amamos até o fim, se amamos os que ninguém
quis amar, se nós perseveramos em nossa decisão de amar mesmo sendo crucificados
por aqueles que a vida confiou ao nosso amor. Enfim, parafraseando Santa Teresa
de Calcutá, tenhamos consciência de que “a maior doença hoje em dia não é o
câncer, mas sim a solidão e a sensação de não ser amado”.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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