quinta-feira, 8 de maio de 2025

A QUAIS MÃOS EU TENHO ME CONFIADO DIARIAMENTE?

 Missa do 4º dom. páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 13,14.43-52; Apocalipse 7,9.14b-17; João 10,27-30

 

            “Todos nós como ovelhas, andávamos errantes, seguindo cada qual o seu próprio caminho” (Is 53,6). Essas palavras do profeta Isaías retratam o mundo atual: uma humanidade que anda errante, que não sabe para onde vai. Além disso, o individualismo faz com que cada um siga seu próprio caminho, ou seja, sua própria desorientação, perdendo-se, machucando-se, e às vezes, destruindo-se com suas próprias mãos.

            A resposta que o Pai deu à necessidade que todo ser humano tem de orientação, ou seja, que cada ovelha tem de encontrar o seu Pastor, foi enviar seu Filho. De fato, Jesus, “ao ver a multidão teve compaixão dela, porque estava cansada e abatida como ovelhas sem pastor” (Mt 9,36). Jesus não apenas nos convidou a pedir ao Pai que envie pastores para cuidar do Seu rebanho (cf. Mt 9,38), mas ele mesmo abraçou a missão de ser um pastor segundo o coração de Deus (cf. Jr 3,15). Neste sentido, São Pedro afirma: “estáveis desgarrados como ovelhas, mas agora retornastes ao Pastor e guarda de vossas almas” (1Pd 2,25).

Na sua mensagem para este domingo, o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, escrevendo enquanto estava internado no Hospital Gemelli, em Roma, o Papa Francisco nos lembrou de que a desorientação do mundo atual se traduz numa “crise de identidade que é uma crise de sentido e de valores, que a confusão digital torna ainda mais difícil de atravessar”. Infelizmente, é dentro dessa “confusão digital” que as novas gerações têm buscado respostas, afastando-se da voz de Jesus, cuja verdade do Evangelho nos salva da desorientação, e acolhendo como “verdade” a voz de “Tick Tokers”, “Youtubers” e “Influencers” digitais, os quais são apenas “cegos conduzindo cegos” (cf. Mt 15,14).

Ao revelar-se como único e verdadeiro Pastor, Jesus afirma: “As minhas ovelhas escutam a minha voz” (Jo 10,27). “Escutar”, no sentido bíblico, significa “obedecer”. Muitas pessoas se recusam a escutar a voz de Jesus que ressoa através da Igreja, para obedecer cegamente a voz dos “pastores” da mídia, ainda que sejam líderes religiosos católicos. Muitas dessas ovelhas se recusaram a ouvir a voz do Papa Francisco, porque suas palavras questionavam a ideologia política delas. Além disso, essas ovelhas escolheram viver sua fé separadas do rebanho de Cristo; se consideram católicas, mas não frequentam e não querem pertencer a nenhuma Paróquia. Não são apenas ovelhas sem pastor, mas também sem rebanho.

            Sendo rejeitado por muitos líderes religiosos, assim como o Papa Francisco foi rejeitado por católicos conservadores e tradicionalistas, Jesus sempre permaneceu sereno e confiante na sua missão, entendendo que todo ser humano é livre para escolher a quem seguir, por quem se orientar, e aqueles que rejeitaram sua Palavra não eram, verdadeiramente, “suas” ovelhas. Essa rejeição à palavra do Evangelho foi testemunhada por Paulo e Barnabé, no texto dos Atos que agora a pouco ouvimos: “Era preciso anunciar a palavra de Deus primeiro a vós. Mas, como a rejeitais e vos considerais indignos da vida eterna, sabei que vamos dirigir-nos aos pagãos. Porque esta é a ordem que o Senhor nos deu: ‘Eu te coloquei como luz para as nações, para que leves a salvação até os confins da terra’” (At 13,46-47).

            Qualquer pessoa tem o direito de recusar-se a obedecer à palavra de Jesus, anunciada pela Igreja através da pregação do Evangelho. O grande perigo, porém, é esta recusa torná-la indigna da vida eterna! Não podemos nos esquecer de que o próprio apóstolo Pedro afirmou a Jesus: “Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68). Recusar a pregação do Evangelho alegando ser esta uma palavra muito dura, questionadora e exigente, que denuncia o quanto o nosso modo de viver não está de acordo com a vontade de Deus, pode até nos deixar mais livres para seguirmos nossos próprios caminhos, nossas próprias desorientações, mas nos distanciará sempre mais da vida eterna.

Contrapondo-se à desorientação do mundo atual, Jesus afirma: “As minhas ovelhas escutam a minha voz... Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão” (Jo 10,27-28). A única forma de não nos perdemos na desorientação do mundo moderno é nos guiar pela voz de Jesus no Evangelho, voz que precisa não apenas ser ouvida por nossos ouvidos, mas, sobretudo, pelo nosso coração. Aqui são oportunas as palavras do Papa Francisco, na sua Mensagem para o dia de hoje: “O mundo, queridos jovens, vos induz a fazer escolhas precipitadas e a encher os dias de barulho, impedindo a experiência de um silêncio aberto a Deus, que fala ao coração. Tende a coragem de parar, de escutar dentro de vós e de perguntar a Deus o que Ele sonha para vós. O silêncio da oração é indispensável para ‘interpretar’ o chamado de Deus na própria história e para dar uma resposta livre e consciente”.

Depende unicamente de cada um de nós afastar-se do barulho, entrar no quarto do seu silêncio interior, para podermos ouvir a voz do nosso Pastor, cuja orientação nos tira da confusão e nos mostra o caminho para a vida eterna. Sem essa atitude nós seguimos pela vida como uma folha seca que o vento da desorientação empurra para onde quer. É na oração diária que voltamos a nos colocar nas mãos do Pai e do Filho: “Ninguém vai arrancá-las de minha mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai” (Jo 10,29-30). Aqui é preciso ter consciência que somos nós que escolhemos em quais mãos nos colocar, a quais mãos nos confiar. Por mais que o ser humano moderno pense ser autônomo, ele sempre acaba por se confiar às mãos de algo ou de alguém. Nenhuma ovelha consegue sobreviver sem vincular-se a algo ou a alguém que se torne para ela seu pastor, seu segurança, seu protetor, sua orientação.

Em quais mãos eu me sinto neste momento? A quais mãos eu tenho me confiado? Às mãos do mercado? Às mãos de algum influenciador digital? Às mãos de algum lobo vestido com pele de pastor? Às mãos do meu próprio vício e do meu próprio pecado? Só experimenta proteção e só encontra vida quem escolhe permanecer nas mãos do Pai e do Filho, como revela o livro do Apocalipse: “Nunca mais terão fome, nem sede. Nem os molestará o sol, nem algum calor ardente. Porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida. E Deus enxugará as lágrimas de seus olhos” (Ap 7,16-17).

           

Oração: Senhor Jesus, todos nós estamos vivendo num mundo profundamente desorientado, onde cegos estão guiando cegos, sobretudo nas redes sociais. Concede-nos escutar e obedecer à tua voz, pois só tu tens palavras de vida eterna! Retira-nos das mãos dos falsos pastores, das mãos da nossa própria desorientação e, sobretudo, das mãos do nosso vício e do nosso pecado. Que a nossa oração diária seja o momento em que nos confiamos às tuas mãos e às mãos do Pai, mãos que nos resgatam, nos curam, nos protegem e nos orientam no caminho para a vida eterna. Vós que com o Pai viveis reinais pelos séculos dos séculos. Amém.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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