Missa do 4º dom. páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 13,14.43-52; Apocalipse 7,9.14b-17; João 10,27-30
“Todos nós como ovelhas, andávamos
errantes, seguindo cada qual o seu próprio caminho” (Is 53,6). Essas palavras
do profeta Isaías retratam o mundo atual: uma humanidade que anda errante, que
não sabe para onde vai. Além disso, o individualismo faz com que cada um siga
seu próprio caminho, ou seja, sua própria desorientação, perdendo-se,
machucando-se, e às vezes, destruindo-se com suas próprias mãos.
A resposta que o Pai deu à
necessidade que todo ser humano tem de orientação, ou seja, que cada ovelha tem
de encontrar o seu Pastor, foi enviar seu Filho. De fato, Jesus, “ao ver a
multidão teve compaixão dela, porque estava cansada e abatida como ovelhas sem
pastor” (Mt 9,36). Jesus não apenas nos convidou a pedir ao Pai que envie
pastores para cuidar do Seu rebanho (cf. Mt 9,38), mas ele mesmo abraçou a
missão de ser um pastor segundo o coração de Deus (cf. Jr 3,15). Neste sentido,
São Pedro afirma: “estáveis desgarrados como ovelhas, mas agora retornastes ao
Pastor e guarda de vossas almas” (1Pd 2,25).
Na sua mensagem para este domingo, o Dia
Mundial de Oração pelas Vocações, escrevendo enquanto estava internado no Hospital
Gemelli, em Roma, o Papa Francisco nos lembrou de que a desorientação do mundo
atual se traduz numa “crise de identidade que é uma crise de sentido e de
valores, que a confusão digital torna ainda mais difícil de atravessar”.
Infelizmente, é dentro dessa “confusão digital” que as novas gerações têm
buscado respostas, afastando-se da voz de Jesus, cuja verdade do Evangelho nos
salva da desorientação, e acolhendo como “verdade” a voz de “Tick Tokers”, “Youtubers”
e “Influencers” digitais, os quais são apenas “cegos conduzindo cegos” (cf. Mt
15,14).
Ao revelar-se como único e verdadeiro
Pastor, Jesus afirma: “As minhas ovelhas escutam a minha voz” (Jo 10,27). “Escutar”,
no sentido bíblico, significa “obedecer”. Muitas pessoas se recusam a escutar a
voz de Jesus que ressoa através da Igreja, para obedecer cegamente a voz dos “pastores”
da mídia, ainda que sejam líderes religiosos católicos. Muitas dessas ovelhas
se recusaram a ouvir a voz do Papa Francisco, porque suas palavras questionavam
a ideologia política delas. Além disso, essas ovelhas escolheram viver sua fé
separadas do rebanho de Cristo; se consideram católicas, mas não frequentam e
não querem pertencer a nenhuma Paróquia. Não são apenas ovelhas sem pastor, mas
também sem rebanho.
Sendo rejeitado por muitos líderes
religiosos, assim como o Papa Francisco foi rejeitado por católicos
conservadores e tradicionalistas, Jesus sempre permaneceu sereno e confiante na
sua missão, entendendo que todo ser humano é livre para escolher a quem seguir,
por quem se orientar, e aqueles que rejeitaram sua Palavra não eram,
verdadeiramente, “suas” ovelhas. Essa rejeição à palavra do Evangelho foi
testemunhada por Paulo e Barnabé, no texto dos Atos que agora a pouco ouvimos: “Era
preciso anunciar a palavra de Deus primeiro a vós. Mas, como a rejeitais e vos
considerais indignos da vida eterna, sabei que vamos dirigir-nos aos
pagãos. Porque esta é a ordem que o Senhor nos deu: ‘Eu te coloquei como
luz para as nações, para que leves a salvação até os confins da terra’” (At 13,46-47).
Qualquer pessoa tem o direito de
recusar-se a obedecer à palavra de Jesus, anunciada pela Igreja através da
pregação do Evangelho. O grande perigo, porém, é esta recusa torná-la indigna
da vida eterna! Não podemos nos esquecer de que o próprio apóstolo Pedro afirmou
a Jesus: “Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).
Recusar a pregação do Evangelho alegando ser esta uma palavra muito dura,
questionadora e exigente, que denuncia o quanto o nosso modo de viver não está
de acordo com a vontade de Deus, pode até nos deixar mais livres para seguirmos
nossos próprios caminhos, nossas próprias desorientações, mas nos distanciará
sempre mais da vida eterna.
Contrapondo-se à desorientação do mundo
atual, Jesus afirma: “As minhas ovelhas escutam a minha voz... Eu dou-lhes a
vida eterna e elas jamais se perderão” (Jo 10,27-28). A única forma de não nos
perdemos na desorientação do mundo moderno é nos guiar pela voz de Jesus no
Evangelho, voz que precisa não apenas ser ouvida por nossos ouvidos, mas,
sobretudo, pelo nosso coração. Aqui são oportunas as palavras do Papa
Francisco, na sua Mensagem para o dia de hoje: “O mundo, queridos jovens, vos
induz a fazer escolhas precipitadas e a encher os dias de barulho, impedindo a
experiência de um silêncio aberto a Deus, que fala ao coração. Tende a coragem
de parar, de escutar dentro de vós e de perguntar a Deus o que Ele sonha para
vós. O silêncio da oração é indispensável para ‘interpretar’ o chamado de Deus
na própria história e para dar uma resposta livre e consciente”.
Depende unicamente de cada um de nós
afastar-se do barulho, entrar no quarto do seu silêncio interior, para podermos
ouvir a voz do nosso Pastor, cuja orientação nos tira da confusão e nos mostra
o caminho para a vida eterna. Sem essa atitude nós seguimos pela vida como uma
folha seca que o vento da desorientação empurra para onde quer. É na oração
diária que voltamos a nos colocar nas mãos do Pai e do Filho: “Ninguém vai
arrancá-las de minha mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que
todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai” (Jo 10,29-30). Aqui é preciso
ter consciência que somos nós que escolhemos em quais mãos nos colocar, a quais
mãos nos confiar. Por mais que o ser humano moderno pense ser autônomo, ele
sempre acaba por se confiar às mãos de algo ou de alguém. Nenhuma ovelha consegue
sobreviver sem vincular-se a algo ou a alguém que se torne para ela seu pastor,
seu segurança, seu protetor, sua orientação.
Em quais mãos eu me sinto neste momento?
A quais mãos eu tenho me confiado? Às mãos do mercado? Às mãos de algum
influenciador digital? Às mãos de algum lobo vestido com pele de pastor? Às mãos
do meu próprio vício e do meu próprio pecado? Só experimenta proteção e só
encontra vida quem escolhe permanecer nas mãos do Pai e do Filho, como revela o
livro do Apocalipse: “Nunca mais terão fome, nem sede. Nem os molestará o sol,
nem algum calor ardente. Porque o Cordeiro, que está no meio do trono,
será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida. E Deus enxugará as
lágrimas de seus olhos” (Ap 7,16-17).
Oração: Senhor Jesus, todos nós estamos
vivendo num mundo profundamente desorientado, onde cegos estão guiando cegos,
sobretudo nas redes sociais. Concede-nos escutar e obedecer à tua voz, pois só
tu tens palavras de vida eterna! Retira-nos das mãos dos falsos pastores, das
mãos da nossa própria desorientação e, sobretudo, das mãos do nosso vício e do
nosso pecado. Que a nossa oração diária seja o momento em que nos confiamos às
tuas mãos e às mãos do Pai, mãos que nos resgatam, nos curam, nos protegem e
nos orientam no caminho para a vida eterna. Vós que com o Pai viveis reinais
pelos séculos dos séculos. Amém.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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