quinta-feira, 31 de julho de 2025

O FIO DE OURO QUE NOS ADOECE E NOS ESCRAVIZA: A GANÂNCIA

Missa do 18º dom. comum. Palavra de Deus: Eclesiastes 1,2.2,21-23; Colossenses 3,1-5.9-11; Lucas 12,13-21.

 

            Inúmeras famílias estão sendo arruinadas por causa das “Bets” (apostas) eletrônicas. Há diversos casos de suicídio, porque a pessoa viciou no jogo e foi se afundando cada vez mais em dívidas; há casais que se divorciaram, porque o marido viciou no Jogo do Tigrinho e se endividou; há também casos trágicos, como o de uma professora de Belo Horizonte (MG) que recentemente foi morta pelo próprio filho, o qual estava endividado. Enquanto famílias estão sendo destruídas pelo vício em jogos de aposta on line, os donos das casas de aposta estão ficando cada vez mais milionários, pois os jogos de azar são programados para que a casa de aposta sempre ganhe. Há diversos vídeos no You Tube nos conscientizando a respeito disso. Deixo aqui apenas dois exemplos: https://www.youtube.com/live/T5Tsy_Ln4n4 (A Banca sempre ganha) e https://www.youtube.com/watch?v=kNUUwEXLVCM (A BET nunca perde).

             Num país de profunda desigualdade social como o nosso, onde os salários de políticos e juízes são astronômicos, enquanto a grande maioria dos trabalhadores brasileiros tem que sobreviver com salários em torno de R$ 2 mil reais ou de R$ 3 mil reais, é mais do que compreensível que a promessa enganadora de ganhar dinheiro com apostas on line seduza fortemente as pessoas. Além disso, a propaganda de consumo leva as pessoas a perderem a noção entre o essencial e o supérfluo, de modo que muitas dívidas são contraídas não porque a pessoa busca suprir suas necessidades básicas, mas porque se sente um “nada”, uma fracassada, quando se compara com outras pessoas que, nas suas redes sociais, ostentam o seu poder de consumo.

            Diante da grande ilusão de que o dinheiro é a solução de todos os nossos problemas, Jesus nos faz esse alerta: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,15). Jesus é muito claro: “todo tipo de ganância”. A ganância não está presente só no coração dos ricos, mas também no coração dos pobres. Ela sempre foi e sempre será uma tentação na vida de qualquer pessoa. É ela quem corrompe governantes, políticos, juízes, advogados, policiais, empresários, médicos, etc. É ela que implanta em nós um vírus perigoso, chamado cobiça. Segundo o apóstolo Paulo, a cobiça “é idolatria” (Cl 3,5), ou seja, ela nos faz dar prioridade aos bens materiais em detrimento dos bens espirituais; ela tira Deus do centro da nossa fé e coloca o dinheiro no lugar d’Ele. A consequência disso é a perda de sentido de vida. Já está comprovado que o índice de suicídio é muito mais alto nos países ricos do que nos países pobres. Quando Deus deixa de ser o centro do coração humano, o vazio existencial se torna tão grande que dinheiro algum consegue preenchê-lo.  

            Na parábola que Jesus nos conta fica muito claro que a ganância e a cobiça fecham a pessoa em si mesma e a tornam indiferente às necessidades dos outros seres humanos. O homem da parábola não enxerga ninguém, além de si mesmo: “Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!” (Lc 12,18-19). Portanto, o que condena uma pessoa perante Deus não é a quantidade de dinheiro que ela possui, mas o seu fechamento em si mesma e a sua indiferença para com os outros que têm menos do que ela, principalmente quando a sua riqueza é consequência dos baixos (e injustos) salários que ela paga aos seus funcionários.

            Para aqueles que investem o melhor de suas energias na busca de se tornarem ricos e, ilusoriamente, garantirem um futuro tranquilo para si e para os seus, Jesus tem algo simples e direto a dizer: “Vocês são loucos!” (cf. Lc 12,20). ‘Vocês abriram mão da liberdade interior para se tornarem escravos do consumismo. Vocês se sentem seguros acumulando dinheiro e não se dão conta de que a vida de vocês terminará muito antes do que imaginam, e vocês mesmos não desfrutarão do que acumularam. Vocês não se dão conta de que vazio não se preenche com vazio. Ostentar riqueza é vaidade, e vaidade significa vazio. Investir o dinheiro de vocês apenas em função dos seus prazeres mundanos, sem se preocuparem com a desigualdade social, os impedirá de entrarem no Reino de meu Pai, pois o destino de quem deu prioridade em buscar as coisas da terra ao invés das coisas do alto é ser enterrado, e não ser levado ao céu (cf. Lc 16,22)’.    

            Hoje, portanto, cada um de nós precisa se perguntar: como eu lido com a minha vida financeira? O quanto de liberdade interior ainda me resta, diante dos apelos da propaganda de consumo? Quanto tempo eu perco e quanto mal eu faço a mim mesmo(a) vendo postagens nas redes sociais de pessoas vazias ostentando o próprio vazio? Quanto do meu ganho mensal eu “invisto” em ajudar alguma entidade beneficente ou uma pessoa/família necessitada? Eu também estou entre aqueles que se encontram adoecidos pelo vício dos jogos de aposta on line? Eu aprovo que meu time de futebol seja patrocinado por alguma BET, cuja ganância está destruindo inúmeras famílias no Brasil?  

            Que o Senhor, nosso Deus, tenha misericórdia de nós e nos arranque das mãos de todo e qualquer tipo de ganância. A Ele pedimos, junto com o salmista: “Ensinai-nos a contar os nossos dias, e dai ao nosso coração sabedoria! Que a bondade do Senhor e nosso Deus repouse sobre nós e nos conduza! Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho” (Sl 90,12.17).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi   

  

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