Missa do 17º dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 18,20-32; Colossenses 2,12-14; Lucas 11,1-13.
O tema central da nossa liturgia de
hoje é a Oração. Na primeira leitura, temos a oração de intercessão de Abraão;
no Evangelho, a oração de Jesus; no Salmo a oração do salmista: “Naquele dia em
que gritei (na oração), vós me escutastes e aumentastes o vigor da minha alma”
(Sl 138,3).
A primeira coisa que precisamos
recordar, a respeito da oração, é que ela não é algo espontâneo em nós.
Espontâneo é comer quando estamos com fome, dormir quando estamos cansados etc.
Em outras palavras, a oração nunca surge em nós como uma necessidade, embora
nós necessitemos dela absolutamente, pois o próprio Jesus afirmou: “Sem mim,
nada podeis fazer” (Jo 15,5). Rezar não é uma questão de sentir vontade de
fazê-lo ou de ter tempo para fazê-lo, mas uma questão de disciplina, isto é, de
educar-se para, todos os dias, escolher um horário e um local para se colocar
na presença de Deus, como fazia Jesus; como fez Abraão: “Abraão ficou na
presença do Senhor” (Gn 18,22).
Nós somos seres necessitados. É
normal que, na oração, apresentemos a Deus nossas necessidades. No entanto, a
oração de Abraão pela salvação das cidades de Sodoma e de Gomorra nos convida a
rezar não unicamente por nós mesmos e por aqueles que amamos, mas também pela
salvação da humanidade. Outra coisa importante que aparece na oração de Abraão:
pessoas justas, isto é, que procuram viver segundo a vontade de Deus, podem
salvar pessoas injustas, que fazem mal a si mesmas e ao mundo. Se em Sodoma e
Gomorra Deus encontrasse dez pessoas justas, Ele pouparia tais cidades da
destruição. Para todos aqueles que abandonaram a vontade de se tornarem pessoas
ajustadas à vontade de Deus, achando que isso de nada adianta, a oração de
Abraão deixa claro que o comportamento justo de uma pessoa pode salvar da
destruição o ambiente em que ela se encontra.
Da oração de Abraão passamos para a
de Jesus. “Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus
discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a rezar’” (Lc 11,1). Todos nós
precisamos reaprender a rezar. A oração é um desafio para qualquer pessoa, seja
porque ela nos obriga a entender que jamais poderemos usá-la para manipular
Deus e dobrá-lo aos nossos interesses, seja porque seja porque ela nos ensina
que nós não somos autossuficientes: ou nos colocamos todos os dias nas mãos de
Deus, ou não chegaremos a lugar nenhum com nossos próprios esforços. Além
disso, a principal coisa a aprender na oração é que ela só nos transforma
quando saímos dela dispostos a fazer a vontade de Deus.
Quando nos colocamos em oração, nos
colocamos na presença do “Deus escondido” (Is 45,15), o Deus que não podemos
ver, nem tocar e nem sentir. E só há uma forma de não desistirmos de estar na
Sua presença: nos lembrar das palavras da carta aos Hebreus – “Aquele que
procura a Deus deve crer que ele existe e que recompensa aqueles que o procuram”
(Hb 11,6). Quem verdadeiramente reza nunca sairá da oração de mãos vazias. Isso
não significa que Deus nos dará tudo o que pedimos na oração, mas Ele nos dará
tudo o que necessitamos naquele momento para vivermos segundo a sua vontade. Portanto,
não nos esqueçamos: na oração, o Pai não dá ao filho o que ele quer, mas o que
ele precisa, sobretudo em vista da sua própria salvação.
Pelo simples fato de que a oração
nunca será uma forma automática e imediata de resolvermos os nossos problemas e
termos os nossos desejos atendidos por Deus, Jesus nos fala da importância de
perseverarmos na oração: “Pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e
vos será aberto” (Lc 11,9). Toda e qualquer oração terá que passar pela
provação da espera. Recordemos mais uma vez: por mais que uma oração seja
movida por uma fé autêntica e sincera, ela não tem poder de forçar Deus a agir
em favor da pessoa. Quem não aprendeu a esperar em Deus e suportar as suas
demoras sempre acabará por desistir de rezar. Por isso, como disse um homem de
Deus, “a oração errada é aquela que você nunca fez”. Muitos desistiram de
rezar, de pedir, de procurar e de bater à porta.
Segundo Jesus, uma coisa é fundamental
para a nossa oração: confiar no cuidado e no amor do Pai por nós, seus filhos. Ele
nunca nos daria algo inútil (uma pedra), quando lhe pedimos algo extremamente
necessário (um pão), segundo a versão da oração em Mt 7,9; Ele nunca nos daria
um escorpião (algo ruim), quando lhe pedimos um ovo (algo bom). Mas aqui entra
um problema: o que Deus entende por bom? Toda pessoa que reza já se decepcionou
ou um dia se decepcionará profundamente com Deus, pois Ele nem sempre nos
concede aquilo que lhe pedimos. Quantos pais pediram a Deus a cura para seus
filhos, mas suas orações não foram atendidas? Pediram algo bom: a preservação da
vida do filho, mas Deus permitiu algo ruim: a morte do filho.
Se não quisermos abandonar a oração
como algo completamente inútil e sem sentido, precisamos aceitar que o Deus a
quem oramos é mistério; Ele tem propósitos que nos escapam. Além disso, jamais
podemos reduzir a nossa fé à vida deste mundo; o que Deus tem para nós vai
muito além desta vida terrena e passageira. Enquanto nós oramos mantendo os
olhos nas necessidades do aqui e do agora, Deus tem os Seus olhos voltados para
a nossa salvação, para a vida eterna, para o seu Reino. Se para nós, é
imprescindível a cura física de uma pessoa, para Ele é imprescindível a
salvação dessa mesma pessoa. Portanto, cada “não” de Deus à nossa oração é um
convite a confiar no Seu amor e no Seu cuidado para conosco. Sem essa
confiança, todos nós um dia desistiremos da oração.
Para terminar, não nos esqueçamos:
Jesus não apenas nos ensinou a rezar, através da oração do Pai Nosso, mas nos
ensinou também que aquilo de que mais necessitamos e que jamais deve ser esquecido
de ser pedido na oração de cada dia é o Espírito Santo: “o Pai do Céu dará o
Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,13).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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