quinta-feira, 24 de outubro de 2013

DESÇA DO PEDESTAL

Missa do 30º. dom. comum. Palavra de Deus: Eclesiástico 35,15b-17.20-22a; 2Timóteo 4,6-8.16-18; Lucas 18,9-14.

            Olhe à sua volta e observe as pessoas. Por onde quer que você ande, vai se deparar cada vez mais com pessoas soberbas, arrogantes, cheias de si, pessoas que se julgam melhores do que as outras, pessoas que se julgam superiores. Mas, olhe também para você. Coloque-se diante de um espelho – de preferência, diante do espelho da sua consciência – e procure reconhecer o quanto você também já se encheu de soberba, de arrogância, o quanto às vezes se julga melhor que os outros, superior(a) a eles.
            Se é cada vez mais comum encontrarmos pessoas soberbas e arrogantes na sociedade, deveria ser raro encontrá-las nas igrejas. Mas este é o alerta do Evangelho para nós hoje: não poucas pessoas fazem da sua vivência religiosa um motivo a mais para se sentirem superioras aos outros, não apenas se julgando boas, justas, cheias de méritos, mas também sentindo-se no direito de desprezar os outros, como fez o fariseu, na parábola contada por Jesus.
            A oração deveria ser o momento em que ficamos descalços e tocamos o chão, para nos lembrar de onde vivemos e quem somos: somos barro, e como barro, dependemos absolutamente de Deus para sermos alguma “coisa”. Como barro, somos também “sujos”, e somente a água da graça de Deus pode nos purificar. Como diz uma oração da nossa Igreja: “Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo”.
A oração poderia ser o momento onde entramos barro e saímos vaso novo, onde entramos feridos e saímos curados, onde entramos pecadores e saímos justificados. Porém, algumas vezes, saímos da oração do mesmo jeito que entramos; saímos das nossas igrejas e voltamos para as nossas casas sem ser justificados, porque, quando nos colocamos na presença de Deus, ficamos como se estivéssemos em cima de um pedestal; rezamos como o fariseu da parábola: “de pé”, para que não somente Deus, mas todas as outras pessoas da igreja pudessem ver o quanto somos bons, perfeitos, retos, íntegros, observantes fiéis das normas religiosas, pessoas realmente evoluídas no sentido espiritual, diferentes de tantas outras, que julgamos ignorantes, atrasadas, não evoluídas como nós...
Como você se coloca diante de Deus na oração? O fariseu se colocava assim: ‘Estou aqui para lembrar ao Senhor o quanto sou uma pessoa boa e, portanto, merecedora da salvação’. Já o cobrador de impostos se colocava assim: ‘Estou aqui para implorar a misericórdia do Senhor, porque tenho consciência de que sou um pecador e necessito de salvação’. Como você se coloca diante de Deus na oração: como um copo cheio ou como um copo vazio? Como uma pessoa cheia de si mesma ou como uma pessoa que, na sua humildade e simplicidade de coração, tem espaço para Deus entrar e depositar no seu coração a bênção da justificação?
Se o salmo 143,2 afirma que diante de Deus, nenhuma pessoa pode se declarar justa (cf. Sl 143,2), ninguém de nós pode se fazer passar por justo diante de Deus, pois Ele conhece o nosso interior e sabe que somos pecadores (somos, e não apenas temos este ou aquele pecado). Se, por um lado, ninguém é justo diante de Deus, por outro lado Ele, e somente Ele, pode nos justificar, e já o fez, pelo sacrifício de Jesus Cristo na cruz (cf. Rm 4,23-25; 5,1.9-11.16-21).
Vivendo no meio de pessoas arrogantes, que se julgam melhores que as outras e, inclusive, mais evoluídas espiritualmente que elas, Jesus nos convida a cultivar a humildade como abertura para Deus, a fim de que possamos sair da oração justificados, lembrando que só pode ser justificado quem reconhece que a salvação vem de Deus, e não dos seus próprios méritos; só pode ser justificado quem tem consciência de que necessita ser salvo. 
Diz o salmo 51,19: “Sacrifício (que agrada) a Deus é espírito contrito; coração contrito e esmagado, ó Deus, tu não desprezas”. Quanto mais você se colocar com humildade diante de Deus, entregando às mãos d’Ele os seus pedaços, as suas falhas, o seu lado feio, imperfeito, doente, sujo, mais Ele acolherá você e agirá na sua vida, porque você permitiu que Ele entrasse nas suas feridas mais profundas. Quanto mais você se apresentar diante de Deus na oração como se fosse uma estátua de mármore, magnífica, sem nenhum trinco, defeito ou mancha, mais você sairá da oração sentindo que ela foi inútil e que Deus nada fez em você. Como Deus poderia fazer alguma obra numa pessoa que já se sente pronta, completa, evoluída? Como Deus poderia justificar alguém que já se sente justo? 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

NÃO DESISTIR: NEM DE DEUS, NEM DE SI MESMO(A)

Missa do 29º. dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo 17,8-13; 2Timóteo 3,14 – 4,2; Lucas 18,1-8.

            “(...) a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir” (Lc 18,1). Jesus nos diz que a oração é necessária. Não diz que ela é boa, ou que pode nos fazer bem, ou que pode nos fortalecer e nos ajudar. Ele diz: é necessário, é preciso que você tenha uma vida de oração e não desista dela nunca! Se a oração é necessária para a vida de cada um de nós, então não se trata de rezar se eu tenho vontade, mas de rezar porque eu necessito, porque a oração é absolutamente necessária para a minha vida.
            A necessidade da oração em nossa vida apareceu no relato da luta de Israel contra os amalecitas. “Enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia; quando baixava, vencia Amalec... Ora, as mãos de Moisés tornaram-se pesadas” (Ex 17,11-12). As mãos levantadas de Moisés são símbolo da oração. Assim como Moisés, nós levantamos as mãos para o céu quando rezamos. Mas chega um momento em que as nossas mãos “se tornam pesadas”; chega um momento em que nos cansamos de rezar porque não vemos o resultado da nossa oração. E aí desistimos de rezar.
            Quando as mãos de Moisés se abaixavam, Israel começava a ser derrotado por Amalec. Da mesma forma, quando abandonamos a nossa vida de oração, começamos a ser derrotados pelos nossos inimigos, simplesmente porque nos desconectamos da força do Alto, que nos é dada na oração. Percebendo o cansaço de Moisés, Aarão e Ur foram criativos e ajudaram Moisés a retomar a sua oração, até que Israel venceu Amalec (cf. Ex 17,12-13). Nós nos animamos mutuamente na oração? Você reanima as pessoas que estão esfriando na vida de oração? Você é criativo(a) na sua oração?
            A nossa oração está vinculada à nossa fé. O mesmo Jesus que inicia o Evangelho de hoje falando da necessidade de rezar sempre e nunca desistir, termina perguntando se quando Ele voltar encontrará fé sobre a terra (cf. Lc 18,8). Se nós esfriamos na oração é porque esfriamos na fé. Quem abandona a oração é porque está abandonando também a sua fé. Jesus diz que nunca devemos desistir de rezar. Quando você desiste da oração, você não desiste apenas de Deus, mas desiste de si mesmo(a). Quando você desiste de rezar sobre determinado problema, você desiste de resolver aquele problema e se deixa vencer por ele.
            Muitos desistiram da sua fé, desistiram de rezar porque não foram atendidos por Deus em suas orações, porque se sentiram desprezados por Ele, como esse juiz desprezava essa viúva, na parábola do Evangelho. Talvez você também se sinta assim. Talvez você também se pergunte: Por que rezar a um Deus aparentemente cego, surdo e indiferente ao meu sofrimento? Por que rezar a um Deus que me despreza na minha dor? Por que voltar a rezar a um Deus que, quando mais precisei e supliquei por Ele, virou as costas para mim e deixou meu filho/minha mãe/meu amigo morrer?
Você pode ter muitos motivos para abandonar sua vida de oração. Mas, tome cuidado com uma coisa: há alguém muito interessado nisso. Quando você reza, está abrindo espaço para Deus em sua vida. Quando você abandona sua oração, o espaço que em sua vida deveria ser ocupado por Deus passa a ser ocupado pelo inimigo de Deus. Ele, o maligno, é o mais interessado em que você abandone sua oração...
A oração sempre foi e sempre será uma luta. Primeiro, lutamos contra a nossa preguiça, contra a nossa falta de disciplina espiritual, contra as nossas distrações. Além disso, lutamos com Deus – a luta entre a nossa vontade e a vontade d’Ele, entre as nossas urgências e o tempo d’Ele. Jacó também lutou com Deus na sua oração, e a sua persistência ficou gravada para sempre na Escritura como exemplo para todos nós, quando disse a Deus: “Eu não te deixarei, enquanto não me abençoares” (Gn 32,27). Poderíamos também dizer: ‘Eu não deixarei de clamar, até que me respondas, ainda que a resposta não seja o que eu estou pedindo’.   
Jesus termina este Evangelho garantindo que Deus fará justiça aos Seus filhos que por Ele suplicam dia e noite. Ele cumprirá cada uma das Suas promessas, mas só aqueles que guardaram a sua fé verão isso. Só aqueles que não fizeram “corpo mole” e não desistiram de lutar com Deus, experimentarão a Sua bênção. Só aqueles que, apesar de terem motivos, não desistiram de Deus, nem desistiram de si mesmos, é que alcançarão a realização das promessas de Deus em sua vida. Rezemos pela fé no coração de cada jovem, pois hoje é o Dia Nacional da Juventude. Hoje é também o Dia Mundial das Missões. Rezemos pelos missionários, para o fortalecimento da fé neles, para que suas mãos não se cansem de rezar e de trabalhar pela evangelização dos povos. 

                                                     Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

RECONHECER, LOUVAR, ADORAR

Missa do 28º. dom. comum. Palavra de Deus: 2Reis 5,14-17; 2Timóteo 2,8-13; Lucas 17,11-19.

         Quando foi a última vez que você agradeceu a Deus? Quando foi a última vez que, na sua oração, além de você pedir, suplicar, você também louvou e agradeceu a Deus? Quando foi a última vez que você disse a alguma pessoa: “muito obrigado!”?
         Jesus concedeu a graça da cura a dez leprosos. “Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz, atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu. E este era um samaritano” (Lc 17,15-16). Você já percebeu, já se deu conta do que Deus fez por você até hoje? Você percebeu o que Deus fez por você neste dia? Você percebe o que algumas pessoas fazem pelo seu bem todos os dias? Só quem percebe, só quem se dá conta, só quem observa com um pouco mais de cuidado e percebe quantas bênçãos recebe diariamente de Deus e também de outras pessoas, é que pode ter um coração agradecido.
    Naamã quis agradecer ao profeta Eliseu por sua cura, oferecendo-lhe um presente. Mas o profeta, por ter consciência de que o milagre em Naamã foi obra de Deus e não sua, recusou o presente. Naamã levou, então, uma porção de terra do país de Israel, para que no seu país pudesse se prostrar naquela porção de terra e adorar o Deus que o curou (cf. 2Rs 5,14-17). Reconhecimento, gratidão, adoração.
Se a gratidão não é uma atitude muito comum em nós é porque não sabemos reconhecer aquilo que recebemos. Ao invés de sermos agradecidos, nos tornamos pessoas soberbas, nos esquecendo da Palavra que diz: “Não se encha de soberba. O que faz você achar que é melhor do que os outros? O que você possui que não tenha recebido? E se você recebeu, porque se enche de soberba como se não tivesse recebido?” (citação livre de 1Cor 4,6-7).
Quantas coisas nós recebemos, mas olhamos para elas como se fossem mérito nosso? A primeira coisa que recebemos de Deus e dos nossos pais foi a vida. A vida é um dom, não um merecimento. Você reconhece e agradece pelo dom da sua vida? Você ensina seus filhos a dizerem “muito obrigado” às pessoas. Como você trata as pessoas em casa, no trabalho, no comércio? Você diz “muito obrigado” ao garçom ou à garçonete que lhe atende num restaurante, ou você, apesar do seu dinheiro, é tão pobre em termos de sensibilidade e de educação que não vê sentido em agradecer a quem “ganha” para lhe atender num restaurante?
Voltemos à nossa gratidão para com Deus. Muitos não agradecem a Deus por nada porque eles ainda não chegaram aonde queriam chegar, não atingiram a meta que Deus lhes havia prometido atingir, não terminaram todas as suas lutas. Na época dos Juízes, o povo de Israel travou muitas lutas contra os filisteus. Numa dessas lutas, que não foi a definitiva, Samuel pegou uma pedra e marcou o lugar da vitória parcial de Israel contra os filisteus, dizendo: “Até aqui o Senhor nos socorreu” (1Sm 7,12). Quando é que você vai reconhecer, louvar e agradecer a Deus: somente quando terminarem todas as tuas lutas? Ou não seria agora o momento de você se prostrar por terra e, apesar de tudo aquilo que ainda tem que enfrentar na vida, reconhecer, de coração agradecido: “Até aqui o Senhor me socorreu. Por isso, eu O louvo, O adoro e O bendigo!”?
 Muitas pessoas não veem motivo algum para louvar e agradecer a Deus porque estão passando por determinadas dificuldades. Elas perguntam: “Por que eu iria louvar a Deus, se estou doente, desempregado, sofrendo?” Paulo e Silas, depois de terem sido lançados na parte mais escura da prisão, pela meia-noite começaram, em oração, a cantar os louvores de Deus, e esta oração de louvor fez com que as correntes se quebrassem e as portas de todas as celas se abrissem (cf. At 16,25-26). Quando a nossa oração é cheia de reclamação, e nos colocamos diante do Senhor como vítimas, continuamos acorrentados à nossa dor, paralisados na área mais escura da nossa vida. Mas, quando em nossa oração proclamamos a grandeza de Deus, e mesmo na dor, O louvamos, as correntes que nos prendiam à dor são quebradas...   
 Jesus disse ao samaritano curado, que voltou para lhe agradecer: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou” (Lc 17,19). Quem sabe reconhecer e agradecer porque “até aqui” o Senhor lhe socorreu, lhe conduziu, pode se levantar e continuar a seguir o seu caminho. Quem, na sua oração, não apenas pede ou suplica, mas também louva e agradece; quem, na sua fé, aprendeu que o mais importante não é viver das consolações de Deus, mas agradecer, louvar e continuar a servir com fidelidade o Deus de toda consolação, está verdadeiramente no caminho da salvação.
  Por tudo que me entregas, por tudo que me negas, pelo que ri e o que lamentei. Na noite mais escura, no dia mais dificil, em cada derrota, na dor da solidão... Te louvarei, meu Deus, mesmo se a voz se calar! Te louvarei, meu Deus, mesmo se eu não Te escutar! (bis) (Te louvarei, Banda Dom). 

                                                         Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

DEMORA, ESPERA, DESFECHO

Missa do 27º. Dom. comum. Palavra de Deus: Habacuc 1,2-3; 2,2-4; 2Timóteo 1,6-8.13-14; Lucas 17,5-10.

        “Aumenta a nossa fé!” Os apóstolos, conscientes de que não podiam realizar a missão que lhes foi confiada apoiando-se apenas em si mesmos, pedem a Jesus que aumente a fé neles. Por trás desse pedido está a verdade de que a fé é, antes de tudo, um dom de Deus. Eu não creio porque quero crer; eu creio porque Deus despertou em meu coração a fé.
“Aumenta a nossa fé!” Esse pedido está presente na sua oração? A lista dos nossos pedidos costuma ser longa: pedimos por saúde, por trabalho, pela solução de problemas, pela superação de dificuldades etc., mas também pedimos pela nossa fé? A questão é que muitos não apenas não pedem a Deus por sua fé, mas se cansaram de pedir a Deus qualquer outra coisa. São pessoas que estão com a sua fé abalada, como o profeta Habacuc: “Senhor, até quando chamarei, sem me atenderes... sem me socorreres? Destruições e prepotência estão à minha frente; reina a discussão, surge a discórdia” (Hac 1,2-3).
Se a fé é um dom de Deus, como pedir esse dom a um Deus que parece não nos ouvir, não interessado em nos socorrer, a um Deus que vê tudo o que nós vemos de errado no mundo e parece não disposto a intervir? Eis a primeira parte da resposta de Deus a Habacuc: “A visão refere-se a um prazo definido, mas tende para um desfecho, e não falhará; se demorar, espera, pois ela virá com certeza, e não tardará” (Hac 2,3). Duas palavras-chave: “demora” e “espera”. O grande erro da nossa fé é interpretar a demora de Deus como sinal de que Ele não vai nos atender. Nossa fé, por maior que seja, não tem o poder de “acelerar o processo”, de “forçar Deus” a dar o que Lhe pedimos agora, imediatamente. A fé verdadeira tem de lidar com as demoras de Deus, confiando que há um “desfecho” para aquilo que está acontecendo em nossa vida.
“Demora”, “espera”, “desfecho”. Como falar de fé a uma geração como a nossa, que no imediato exige tudo? Como falar de fé a uma geração que não sabe e se recusa a aprender a esperar? É aqui que se coloca a segunda parte da resposta de Deus a Habacuc, e que serve de alerta para nós: “Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé” (Hac 2,4). Quem não aceita sofrer as demoras de Deus e se recusa a esperar por Sua intervenção, vai desistir de caminhar na justiça e na retidão, vai deixar de ser correto, vai desenraizar-se de Deus e passar a viver como uma folha seca levada pelo vento, vai perder o chão da sua vida, vai ser vencido por toda e qualquer dificuldade.
“O justo viverá por sua fé”. O que mantém você vivo(a) atualmente: sua saúde? Seu dinheiro? Sua influência? Seu sucesso? Seu vigor sexual? Seu time de futebol? Sua emoção? Ou sua fé? Outra questão importante: o que mantém a sua fé viva são as respostas “esmagadoras” de Deus às suas perguntas? Se é assim, lembre-se de que Jesus usou a imagem do grão de mostarda, a menor de todas as sementes, para nos dizer que a fé não se alimenta de respostas “esmagadoras” de Deus. A fé, quando verdadeira, nos faz enxergar Deus nas pequenas coisas, e se nós nos dispusermos a cultivar diariamente pequenas atitudes, como a oração e a meditação da Palavra de Deus, a nossa fé tenderá a crescer.    
Talvez, o nosso maior problema não é ter fé, mas o que entendemos por fé. A fé não é uma chave que abre todas as portas. A fé não responde a todas as perguntas. A verdadeira fé suporta portas fechadas e perguntas sem respostas. A fé não é uma senha de acesso direto a Deus, para que possamos nos servir d’Ele como bem entendemos. Jesus disse: “Quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos servidores e nada mais; fizemos o que devíamos fazer’” (Lc 17,10). Em outras palavras, ter fé não significa nos servir de Deus, mas justamente o contrário: nos colocar a serviço de Deus. Ter fé não significa beneficiar-se do Evangelho, mas sofrer pelo Evangelho (cf. 2Tm 1,8). A fé se torna verdadeira quando desistimos de querer controlar Deus, de usá-Lo a nosso favor, quando desistimos de dizer a Deus o que Ele deve fazer conosco. Por acaso, é o servo que diz ao seu senhor como as coisas devem ser feitas? (cf. Lc 17,7-9).  
            Por fim, São Paulo nos convida a reavivar a chama do dom da fé que recebemos de Deus, a guardar o bom depósito da fé com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós. Portanto, a nossa fé aumenta na medida em que a defendemos, a guardamos, a protegemos, a cultivamos... É essa fé que nos ajuda a nos desenraizar (cf. Lc 17,6), isto é, a nos soltar das nossas falsas seguranças, e permitir que Deus transplante a nossa vida para um lugar mais amplo, onde podemos experimentar o desfecho das Suas promessas em relação a nós e a todos os que n’Ele se atrevem a depositar a sua fé.


Pe. Paulo Cezar Mazzi